Homenagem aos Professores

Homenagem…

 

           … aos dedicados “Professores do Ensino Primário” que abriram os horizontes do Mundo a tantas gerações de crianças na freguesia de Maceira…

 

“Instrução Primária” em Maceira

 

1. Um pouco de História…

Os seres humanos não se reproduzem apenas biologicamente. Nascem despidos, não só de roupas como também de regras e princípios norteadores do comportamento.

É longo o processo que faz da ‘criatura humana’ um ser humano em plenitude.

Não é apenas no domínio genético que se transmitem características, de pais para filhos. Ainda que de modo diferente, também as aquisições nos domínios do fazer e do pensar se transmitem e constituem um património que se vai comunicando aos mais novos, como forma de identificação, sobrevivência e pertença a uma comunidade.

A família é, sem dúvida, a primeira escola onde se aprende a viver e a conviver. Na família descobre-se o Mundo; é nela que se transmitem os valores e os conhecimentos próprios da comunidade a que se pertence.

É uma transmissão predominantemente afectiva. O reconhecimento, a aceitação ou recompensa pelos adultos dos comportamentos da criança, ou o seu contrário, exercem função decisiva sobre a repetição ou inibição desses mesmos comportamentos.

Esta é a grande aventura da Vida, em que todos nos situamos, para alcançar o bem-estar e a harmonia interior e exterior.

 A Escola ao longo dos tempos

A própria família reconhece os limites da sua capacidade para levar a bom termo este processo de preparação dos jovens para a vida adulta em sociedade.

Os pais cedo perguntam qual virá a ser o futuro dos seus filhos, como integrá-los numa actividade reconhecida pelos outros e gratificante para si próprio.

Desde tempos imemoriais que os jovens eram encaminhados para o contacto e convívio próximos com Mestres, de reconhecido valor pela sua sabedoria no fazer, no dizer e no pensar. Eram os mestres das Artes e dos Ofícios.  

Na antiguidade grega, exerceram grande influência social e política as escolas presididas por filósofos, os mestres do saber e de o poder transmitir. Consideravam prioritário educar os jovens para o exercício da função nobre que é a orientação política da sociedade.

Naturalmente, tinham consciência de que nem todos possuem qualidades ou apetência para estar à frente de um povo, ou de uma comunidade, como líderes. No entanto, nem por isso ficam dispensados de cultivar a sua mente e o seu corpo para participarem, como cidadãos responsáveis, nas decisões respeitantes ao bem comum. Quanto mais educados e preparados forem os cidadãos, mais próspera e forte seria a comunidade.

É interessante notar que as palavras ligadas ao saber, como ‘escola’, ‘academia’, ou ‘liceu’ por exemplo, derivam da língua e cultura gregas. O facto de as palavras existirem num determinado local é indicativo de que a realidade significada aí foi criada ou existe. De outro modo, seriam palavras sem significado.

A palavra Escola, no seu étimo original, significa lazer, ócio, no sentido de actividade livre dos encargos obrigatórios, ou seja, do trabalho servil. Só quem estiver livre de preocupações para sobreviver (alimento, vestuário, saúde, por exemplo), poderá dedicar-se às actividades culturais, ou cultura do espírito. É o contrário de negócio.

A Academia foi fundada por Platão no princípio do séc. IV a.C. e o nome homenageia o herói grego Academos. Esta escola foi frequentada por pessoas que se notabilizaram depois em vários ramos do saber, entre eles a matemática e a astronomia.

Um dos seus alunos foi Aristóteles, que fundou nos finais do mesmo séc. IV a.C. outra escola, a que deu o nome de Liceu. Estas escolas filosóficas multiplicaram-se após a conquista da Grécia e sua integração no império romano em meados do séc. II a. C., perdurando na Europa durante séculos.

O pensamento filosófico destas escolas foi integrado no Cristianismo. S. Agostinho (354-430 d. C.) situou-se na linha do pensamento platónico, enquanto S. Tomás de Aquino (1225-1274) ‘cristianizou’ Aristóteles.

Neste contexto, assumem particular importância as escolas monásticas, afastadas do bulício das grandes cidades. Nos mosteiros, que se tornaram verdadeiros centros de cultura, havia um sector mais interno em que eram acompanhados os futuros monges, mas havia igualmente a escola para os leigos, nobres e simples plebeus.

Já no séc. VI e em pleno meio urbano, fundaram-se as escolas episcopais sobretudo orientadas à formação do clero. Mais tarde, pelo ano 1079, apareceram as escolas catedrais, consideradas escolas de ensino superior e percursoras das primeiras universidades.

As escolas catedrais revolucionaram o ensino, pois não se limitavam a repetir ou aprender os livros dos mestres. Dava-se lugar relevante à participação dos discípulos, nas discussões dos temas, e considerava-se o mundo como livro aberto à reflexão e à observação curiosa. O espírito da Escola-Catedral de Chartres, por exemplo, pode sintetizar-se neste princípio: A ciência é a pátria do homem e a ignorância o seu exílio (citado por Le Goff, J. Os intelectuais na Idade Média (1993), p. 49)

Foi neste clima de ideias que se gerou a mentalidade científica do mundo moderno, em que Galileu tem lugar preponderante pela estruturação do método experimental. O horizonte da ciência moderna foi por ele traçado quando afirmou que o Mundo é um livro aberto, escrito em símbolos matemáticos, que todos devemos ler e compreender.

A institucionalização do processo educativo pelo Estado, em Portugal

O processo educativo conheceu grandes transformações ao longo dos séculos, conforme a mentalidade e princípios teóricos próprios do tempo.

A Pedagogia ou ciência da educação, na Idade Moderna e Contemporânea, conheceu grandes impulsionadores que, com os seus contributos teóricos e práxicos, contribuíram para a melhor compreensão do processo educativo de todos, crianças e adultos. São de recordar nomes como Coménio, Pestalozzi, Montessori, Dewey e o português João de Deus.

A escola é uma instituição social estruturada para exercer a função reprodutora de conteúdos identificativos de uma sociedade.

A escola como organização específica, dotada de profissionais especializados, vem depois da família, que é primordial e insubstituível.

A orgânica da Escola, como hoje a conhecemos, desde a creche, o jardim-de-infância, a escola básica e secundária, e finalmente a Universidade, derivou de muitas transformações de mentalidade e de ordem financeira. A Escola reflecte a sociedade que a institui: quanto mais complexa for uma delas, assim a outra o será também.

Até meados do século XVIII, a acção da Igreja ao nível do ensino, e mesmo noutros domínios como a assistência, era praticamente exclusiva. Entendia-se que a educação, e naturalmente o ensino, competiam às famílias e à Igreja. Com o advento do Iluminismo, foi-se arreigando nos países católicos da Europa a ideia de que as responsabilidades do ensino competiam ao Estado.

Foi neste contexto que o Marquês de Pombal, em 17 de Agosto de 1758, confirmou por Alvará, assinado por El-Rei e por si próprio, o Directório com data de 3 de Maio de 1757 em que o seu irmão Francisco instituíra duas ‘escolas publicas’, uma para meninos e outra para meninas, em todas as povoações dos índios do Pará e Maranhão, no Brasil. O mestre ensinaria aos meninos a doutrina cristã, a ler, escrever e contar; a mestra faria o mesmo às meninas, mas também as ensinaria a fiar, fazer renda e costura, além de outros misteres próprios da sua condição feminina. A remuneração dos mestres ficava ao encargo dos pais ou daqueles a quem estes serviam.

Este “Directorio” foi assinado por Francisco Xavier De Mendonça Furtado (irmão do Marquês de Pombal) e apresenta-se como verdadeiro quadro jurídico das actividades económicas e sociais dos índios do Pará e Maranhão.

Esta iniciativa serviu quase como ‘experiência-piloto’ para a futura escolarização em Portugal.[1]

Após a expulsão dos jesuítas[2] que orientavam a maioria das escolas no Reino, Sebastião José de Carvalho e Melo organizou a reforma do ensino, atribuindo em Alvará de 4 de Junho de 1771 à “Real Mesa Censória toda a Administração, e Direcção dos Estudos das Escolas Menores destes Reinos, e seus Dominios; incluindo nesta Administração, e Direcção não só o Real Collegio de Nobres, mas todos, e quaisquer outros Collegios, e Magistérios, que Eu fôr Servido mandar erigir para os Estudos das primeiras idades”.

Na sequência desta determinação, o ano de 1772 pode considerar-se como o ano da criação em Portugal do ensino primário oficial do Estado. Com efeito, o Marquês de Pombal planeou uma rede de ensino público nas principais localidades do país.

No Plano com força de Lei publicado a 6 de Novembro deste mesmo ano de 1772, assinado por El-Rei e pelo Presidente da Mesa Censória, ordena-se: “Que os Mestres de lêr, escrever, e contar, sejão obrigados a ensinar não sómente a boa fórma dos caracteres; mas tambem as Regras geraes da Ortographia Portugueza: e o que necessário for da Syntaxe dela; para que os seus respectivos Discipulos possão escrever correcta, e ordenadamente: Ensinando-lhes pelo menos as quatro especies de Arithmetica simples; o Catecismo, e Regras da Civilidade em hum breve Compendio”.

Ordena-se, em seguida, que aos Particulares que puderem ter Mestres para seus filhos nas próprias casas, seja permitido continuar a usar dessa liberdade, devendo no entanto esses mestres fazer habilitação com exames e aprovação pela Mesa Censória, sob pena de cem cruzados e cadeia; se reincidirem, dobrará a pena e, se houver terceira tentativa, sofrerão o degredo por cinco anos no «Reino de Angola».

Neste mesmo Plano de rede do ensino público é inserido o Mapa dos Professores e Mestres das Escolas Menores e respectivas localidades onde passariam a funcionar. Desse Mapa consta o número de vagas para os Mestres de ler, escrever e contar, bem como para os professores de Gramática Latina, Grego, Retórica e Filosofia (estudos prévios à Universidade). O preenchimento das vagas seria feito após concurso e exame de aptidão perante júri nomeado pela Mesa Censória.

De um total de 479 lugares para Mestres de ler, escrever e contar, a distribuir por todo o país, foram planeados para a Comarca de Leiria apenas 12, assim distribuídos: Leiria (cabeça de Comarca), Pombal, Soure, Peniche, Turquel, Atouguia, Alcobaça, Batalha, Aljubarrota, Pederneira, Évora de Alcobaça e Cela (uma vaga para cada localidade). Na Comarca de Ourém, abriram três vagas, sendo uma em Ourém, outra nos seus termos e a terceira em Porto de Mós.

Perante instantes pedidos de alargamento da rede de ‘escolas menores’, em «Supplemento ao Mappa dos Professores e Mestres das Escolas Menores» com data de 11 de Novembro de 1773, foram concedidos mais dois lugares na Comarca de Leiria: Alfeizerão e Alvorninha.

Estávamos ainda muito longe do chamado ensino universal e gratuito. Aliás, afirma-se no referido Plano que o interesse particular dos menos favorecidos deve ceder ao interesse comum, pois se torna impossível responder às solicitações de todos.[3]

Se os primeiros passos para o ensino estatal foram dados durante a regência do absolutismo régio, ainda foi necessário esperar mais de meio século, agora já em clima liberal, até se reconhecer, por lei, o direito ao ensino universal e gratuito garantido pelo Estado, criando uma rede de escolas mais compatível com as necessidades. Tal legislação foi produzida de modo faseado e não único. Vejamos:

Após Decreto das Cortes Gerais com data de 18 de Abril de 1835, a Rainha D. Maria II por Carta de Lei de 25 do referido mês e ano, no seu artigo 2, autoriza o Governo a «formar e organizar o ensino publico do modo mais conveniente, sem augmento da despesa que actualmente custa este ramo».

Por Decreto de 13 de Maio de 1835, o Ministro do Reino Agostinho José Freire, para «melhorar desde já o Ensino Publico, (…) mas tambem dispor os trabalhos para um systema completo de educação, e instrucção Nacional», nomeou uma Comissão, estabelecendo que reuniria na ‘Real Academia das Sciencias de Lisboa’. Esta Comissão devia apresentar «um plano provisorio e de immediata execução para o actual melhoramento possivel do Ensino Publico» e também um «Systema Geral de educação, e instrucção Religiosa, Civil, e Litteraria para ser proposto ao Poder Legislativo». [4]

Em relação ao primeiro objectivo, o Ministro do Reino estabelecia regras bem claras, nomeadamente que o plano devia aumentar o número de escolas de primeiras letras e de línguas mais frequentes, «diminuindo o das Aulas», sem no entanto implicar aumento da despesa.

Desta Comissão faziam parte, entre outros, Alexandre Thomas Moraes Sarmento (Par do Reino), Bispo Conde D. Francisco, Joaquim José da Costa Macedo (Conselheiro), Joaquim Antonio d’Aguiar (Deputado da Nação) e Francisco Soares Franco (Lente de Medicina).

A sete de Setembro do mesmo ano de 1835, o Ministro do Reino Rodrigo da Fonseca Magalhães estabelece por decreto o ‘Regulamento Geral da Instrucção Primaria’. Nele se menciona, pela primeira vez, que é um ensino gratuito e aberto a todos os cidadãos (Titulo I, art. 2).

«A obrigação imposta pela Carta Constitucional  ao Governo de proporcionar a todos os Cidadãos a Instrução primaria, corresponde a obrigação dos Pais de familia de enviar seus filhos ás Escolas publicas, logo que passem dos sete annos, sem impedimento fisico ou moral, se meios não tiverem de o fazer construir de outro modo» (Titulo VII, art. 1).

O Programa é o seguinte: «a Instrucção primaria comprehende a leitura, a escriptura, e os elementos de Gramatica Portugueza, Arithmetica, Desenho linear, Civilidade, Moral, Religião, Direito politico, e algumas noções de Historia, e Geografia.» (Titulo I, art. 1) Por sua vez, o método a utilizar nas Escolas Públicas será «o de Lencaster = ou Ensino Mutuo = com os melhoramentos de que for susceptivel.» (art. 3)

«Esta instrucção será administrada gratuitamente a todos os Cidadãos em Escolas publicas para esse fim estabelecidas pelo Governo, pelas Camaras Municipaes, ou pelas Juntas de Parochia» (art. 2).

No entanto, qualquer cidadão tinha liberdade para “abrir Aulas publicas, ou ensinar particularmente quaesquer artes ou sciencias honestas“, desde que apresente “attestação de bons costumes passada pela respectiva Camara Municipal“, devendo indicar o local e a “sciencia ou arte que se propõe ensinar”, sob pena de serem “multados em 20$ rs. para as despezas do Concelho“. (art. 4)

Mais determina o Decreto: fora das capitais dos Distritos, haverá uma escola de Instrução Primária desde que as povoações tenham entre 400 e 1500 fogos; haverá duas escolas se tiverem entre 1500 e 3000 fogos. Estas escolas funcionarão em “edifícios públicos convenientemente preparados pelo Governo para esse fim” (Titulo II, art. 2, § 2).

Por Decreto com a mesma data de 7 de Setembro de 1835, é criado o “Conselho Superior de Instrucção publica, encarregado da Direcção e Regimento de todo o Ensino e Educação publica”, devendo “ordenar uma conta annual do estado e progresso dos estudos do Reino, e formar a sua estatistica geral” (art. 6). Os membros deste Conselho Superior foram nomeados por Decreto de 28 de Setembro desse mesmo ano de 1835, sendo também da sua competência a ‘approvação dos compendios’.

Por Portaria de 11 de Outubro de 1836, o Ministro do Reino Manuel da Silva Passos, mais conhecido por Passos Manuel, determinou que se «façam mui positivas recommendações ás Camaras Municipaes, aos Administradores dos Concelhos, ás Juntas e Commissarios de Parochia, e a todos os Párocos dos respectivos Districtos a seu cargo, para que empreguem todos os meios possiveis de influencia, e persuação, a fim de que os Pais de familia enviem os seus filhos ás Escólas existentes de Primeiras Letras, onde possam adquirir a instrucção conveniente á Mocidade». O pressuposto desta recomendação radica no facto de ser «a instrucção primaria a base de toda a illustração, e conhecimentos, de que os Póvos derivam suas idéas Moraes, Politicas, e Religiosas, e de que estão essencialmente dependentes o bem estar dos Cidadãos, e a prosperidade publica».

Com data de 15 de Novembro de 1836, Passos Manuel publicou o decreto da «Instrucção Primaria», em que estabelece as leis organizadoras deste grau de ensino e serviram de referência durante mais de um século. Dois dias depois (17 de Novembro de 1836), é publicado o decreto da «Instrucção Secundaria» que cria um Liceu Nacional em todas as capitais de Distrito e estabelece as regras e o programa deste grau de ensino.

Ao Ministro Passos Manuel se deve, pois, a concretização de um verdadeiro sistema nacional de Instrução Pública, iniciado por Marquês de Pombal. Passos Manuel tinha consciência da importância fundamental do ensino primário na formação dos cidadãos e por isso lhe dedicou especial atenção.

Um ano antes (7 de Setembro de 1835), como atrás se mencionou, o Ministro do Reino Rodrigo Fonseca de Magalhães havia estabelecido o Regulamento Geral da Instrução Primária e o seu Programa. Passos Manuel reorganiza-o e fixa-o nos seguintes termos:

«Artigo 1.º  A Instrucção Primaria comprehende:

          1. As Artes de lêr, de escrever, e de contar

          2. A Civilidade, a Moral, e a Doutrina Christã

          3. Principios de Grammatica Portugueza

          4. Breves Noções de Historia, de Geografia, de Constituição

          5. O Desenho linear

         6. Exercicios gymnasticos acommodados á idade».

No artigo 33 do mesmo decreto, Passos Manuel estabelece a obrigatoriedade do ensino primário para todos os cidadãos portugueses em idade escolar, nos seguintes termos:

«Todos os pais de familias tem rigorosa obrigação de facilitarem a seus filhos a Instrucção das Escolas primarias. As Municipalidades, os Parochos (párocos), os proprios Professores empregarão todos os meios prudentes de persuadir ao cumprimento desta obrigação os que nella forem descuidados

Passos Manuel confirmou ainda a abertura de escolas nocturnas para adultos.

Do teor destas leis (Decretos e Portarias) retiram-se algumas conclusões:

1. O Estado considera-se responsável pela instrução-educação dos cidadãos, e por isso criou em Portugal uma rede escolar de ensino gratuito e obrigatório ao nível do ensino primário.

2. As famílias portuguesas, nesse tempo, ou não tinham consciência da importância da escola, ou não havia condições para aí enviarem os filhos.

3. A rede escolar era pensada e estruturada, em primeiro lugar, como “Instrucção primaria para o sexo masculino. As Escolas para o sexo feminino serão objecto de um regulamento especial.” (Decreto de 7.9.1835, titulo II, art.1 e § 1).

Curiosamente, em ofício ao Governador Civil de Leiria com data de 20 de Maio de 1888, a Sub-Inspecção Escolar desta mesma cidade fazia notar que «na maior parte das freguezias naõ se attende à instrucção do sexo feminino que pela nova Lei tem direito a ella».

 

2.  Instrução Primária em Maceira

Com base na população da freguesia, estavam preenchidas as condições legais para a abertura de escola em Maceira. De facto, se em 1721 o número de fogos já ultrapassava os trezentos, em 1758 havia 429 com uma população de 1.348 pessoas.

Em 2 de Março de 1844 foi enviada ao Conselho Superior de Instrução Pública, pelo Secretário do Governo Civil de Leiria, uma “Relação dos Mestres Particulares de Instrucção Primaria que actualmente ensina, nos concelhos do Districto de Leiria”.

Nesta Relação figura o nome de Jose Coelho, solteiro, de 27 anos, como Mestre de “três discentes na Costa de Cima em Maceira”.

Por Circular n.º 200 da 1ª Secção (Coimbra), o Conselho Superior de Instrução Pública, com data de 26 de Junho de 1848, solicitou ao Governador Civil de Leiria que, ouvidas as Câmaras Municipais, «informe da necessidade de criar, mudar e supprimir cadeiras de ensino primario e secundario do seo Districto.»

Em resposta, o Presidente da Câmara Municipal de Leiria, Joze Gomes de Oliveira, por ofício de 5 de Agosto de 1848, refere que a zona norte do concelho possui “cadeiras de instrucção primaria” em Monte Real, Vieira e Marinha Grande, encontrando-se as outras zonas completamente desprovidas.

Aponta, a seguir, a conveniência em criar ”duas cadeiras de instrucção primaria”, uma na freguesia das Cortes e outra em Maceira, por serem freguesias grandes e a população de Maceira por mais de uma vez o ter já requerido.

Refere ainda o mesmo Presidente no mencionado ofício de 5 de Agosto de 1848: «Consta que alguns Parochos (párocos) insinaõ (ensinam) gratuitamente nas suas freguezias os filhos, d’este ou d’aquelle de seus freguezes que lhes pede, mas solicitados para o fazer por obrigaçaõ, recusaõ-se (recusam-se). Assim naõ deixaria de ser proficuo que o Governo de Sua Magestade recommendasse  ao Ex.mo Bispo d’esta Diocese, que promova pelos meios suasorios que os Parochos se prestem, quanto lhes seja possivel áquelle ensino, pelo modo que já alguns o estaõ praticando.»

Em ofício de 23 de Abril de 1858, já depois de ter sido criada a escola primária nas Cortes (1851), o Administrador do Concelho de Leiria informa o Governo Civil do seu Distrito que é necessario estabelecer cadeiras de ensino primario nas freguezias da Azoia, Maceira, Rigueira de Pontes e Santa Margarida (Arrabal). Por estes anos, já funcionava uma escola na Rebolaria (Batalha) e outra em Alvados (Porto de Mós).

Apresentam-se, em seguida, algumas notas sobre as diversas ‘escolas primárias’ da freguesia de Maceira e seus professores até meados do século XX, por ordem cronológica do início de funcionamento (Arnal, A-do-Barbas, Pocariça, Porto do Carro, Maceirinha, A-dos-Pretos, Cavalinhos e Vale Salgueiro).

Existiu um Posto Escolar na Venda até cerca de 1945, mas são poucas as referências encontradas em documentos escritos, para além da menção do Presidente do Concelho de Leiria em carta de Maio de 1888 ao Governador Civil, pedindo a abertura de uma escola nesse local da Venda (ver a seguir Escola do Arnal). Este Posto Escolar da Venda foi extinto com a abertura da escola primária de A-dos-Pretos.

 No final desta página, apresenta-se uma breve história das Escolas Primárias (masculina e feminina) da Empresa Cimentos Liz (ECL).

Escola do Arnal 

Com base em documentos parcelares, sabe-se que a Escola de Maceira (Arnal) funcionou desde meados do séc. XIX, sendo o seu professor  Joaõ de Souza Rodrigues Ribeiro, cuja nomeação aparece, pela primeira vez em nota documental disponível, com data de Fevereiro de 1851. No entanto, em documento de 1863, onde constam a apresentação do nome e o vencimento dos professores, a Escola do Arnal aparece sem menção do seu professor.

Em documento com data de 3 de Junho de 1867, ou seja, o “Mappa do numero das Escholas Regias do ensino primario do sexo masculino”, refere-se que a escola do Arnal se encontra fechada “por estar pronunciado o professor”.

Em Mapa de 30 de Junho de 1870, aparece documentalmente, pela primeira vez, a escola do Arnal provida do seu professor com o vencimento de 90$000 (noventa mil réis), atribuído a Joaõ de Souza Rodrigues Ribeiro, havendo nota de provimento com data de 21 de Março de 1867. Mais se refere no mencionado Mapa que a escola do Arnal funciona em casa pertencente à Junta da Paróquia de Maceira.

Estrutura arquitetónica original da Casa onde funcionou a primeira escola oficial do ensino primário na freguesia de Maceira (rés-do-chão), mais tarde utilizada pela Filarmónica do Arnal, como sede e casa de ensaios.
O 1º piso serviu de residência paroquial, casa do coadjutor e residência de médicos (Dr. Pereira Gens – médico ao serviço da Empreza de Cimentos de Leiria, terminando as suas funções em 1923, e Dr. Hermínio Laborinho – médico igualmente ao serviço da mesma Empreza de Cimentos, tendo sido também membro da Direcção da Casa do Pessoal).
Recorde-se que o Dr. Pereira Gens foi nomeado em 1926 pelo então bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, como primeiro Director do Serviço de Verificações Médicas, instituído para averiguar a veracidade das curas milagrosas de Fátima e que ele próprio estruturou.
dr-pereira-gensDr. Pereira Gens
(Cortesia de sua filha e netos)
Aspecto actual do mesmo edifício
(Nota: O rés-do-chão deste edifício, que actualmente se apresenta aberto, era inicialmente formado por três arcos que lhe davam uma configuração muito própria e original, como se pode ver nas fotos em cima. Infelizmente, as obras realizadas por volta de 1956, para albergar uma casa de trabalho para ensino de costura às raparigas de Maceira, alteraram o aspecto original do edifício, descaracterizando-o e ficando apenas duas colunas inestéticas a suportar a varanda.) 

No mesmo documento, ou Mapa das Escolas, consta o nome de Francisco de Souza Rodrigues como professor da escola da Ortigosa, ao tempo integrada na freguesia do Souto da Capalhosa, sucedendo-lhe depois o filho, Joaquim Alves de Souza Rodrigues, que foi padrinho de Baptismo de Laura Bernardo de Paula, irmã do Prof. José Bernardo e nascida a 24 de Maio de 1905.

Assim, pode dizer-se que a família Souza Rodrigues do Arnal foi, na época, a Família dos Professores.

Em ofício de 2 de Novembro de 1871, assinado pelo Prof. Joaõ de Souza Rodrigues Ribeiro e com o visto do Regedor Substituto Luiz de Souza (era fogueteiro no Arnal – Ver página Regedores em Maceira), foi enviado o movimento da Escola do Arnal, referente a Novembro daquele ano: dos 24 alunos matriculados no mês anterior (Outubro), nove “foram riscados por ausencia”, ficando 15, sendo três meninas (todas filhas de Joze Carvalho, do Arnal). Destes quinze alunos (14 do Arnal e 1 do Arneiro), um deles (também filho de Joze Carvalho) dera entrada em 1865, dois em 1866, três em 1867, um em 1868 e oito em 1869.

Um documento semelhante permite verificar que, na mesma escola do Arnal, em Dezembro de 1875 havia 25 alunos e, em Abril de 1878, o seu número já havia subido para 41. (Não existem outros dados mais específicos.)

O recenseamento de crianças, em idade escolar, de ambos os sexos da freguesia de Maceira, em 1882, apresentava os seguintes números:

Sexo masculino – 194

Sexo feminino    – 168  (Total – 362)

Matriculados na escola do Arnal – 68 (todos rapazes), correspondendo a 18,7%.

Frequentavam a escola – 46 (todos do sexo masculino; tinham frequentado a escola, no ano anterior de 1881, 31 rapazes e nenhuma rapariga). 46 alunos correspondia a 12,7% e 31 rapazes a 8,5%.

Em 28 de Maio de 1888, o Administrador do Concelho de Leiria enviou ao Governador Civil do Distrito um ofício a solicitar a abertura de “algumas escholas do sexo masculino”, entre elas “uma na Venda dos Pretos, freguezia de Maceira”.

 

Professores da Escola do Arnal

1. Joaõ de Souza Rodrigues Ribeiro

 Atenda-se ao registo seguinte:

 

Registo de baptismo de Joaõ, filho de Joze de Souza

 

O nome Joaõ de Souza Rodrigues Ribeiro derivaria do nome próprio do padrinho (o Doutor Joaõ Pereira Crespo nomeou procurador Joze Luiz Pereira, seu cunhado, que assinou o registo), de Souza (pai), Rodrigues (=filho ou neto de Rodrigo, avô paterno) e Ribeiro (apelido do avô materno).

Assim, este professor é irmão de Joaquim de Souza Rodrigues, também professor e de quem se falará mais abaixo (Escola Nova da Pocariça).

Como atrás se referiu, o nome de Joaõ de Souza Rodrigues aparece como professor em datas diversificadas, o que pode fazer supor que, antes de leccionar na escola do Arnal, o poderá ter feito noutra escola. De facto, a sua primeira nomeação como professor ocorreu em Fevereiro de 1851, mas o primeiro documento que o associa à escola do Arnal tem a data de 1867.

Este mesmo nome aparece como regedor da freguesia entre 1881 e 1884. Tudo leva a crer que será a mesma pessoa, ainda que nesse registo se mencione que é proprietário. (Ver página Regedores em Maceira). Não seria caso único da acumulação de funções de regedor e de professor.

De facto, em ofício de 21 de Fevereiro de 1884, o inspector Joze Silva Lapa solicita aos responsáveis pela Instrução Pública que os «regedores-professores sejam exonerados do segundo cargo para que possam fiscalizar os professores», tornando-se nula tal fiscalização quando os dois cargos são acumulados.

Já nos registos da Direcção Escolar de Leiria (os dados anteriores foram colhidos do espólio do Governo Civil de Leiria), Joaõ de Souza Rodrigues Ribeiro aparece como aposentado por alvará de 30.12.1886, com a pensão de 60$000 (sessenta mil réis).

Manteve a sua actividade, agora no campo da investigação e já livre das suas obrigações de docência, atraído pelos grandes jazigos de pedra existentes sobretudo na área da Gândara.

Tornou-se pioneiro da futura indústria cimenteira, pois estudou as propriedades da pedra marno-calcárea (tipo argiloso) de Maceira, muito adequadas para a fabricação de cimentos.

Curiosamente, foi Joaõ Luiz de Souza, genro do seu irmão Joaquim, também professor de ensino primário, que veio a construir uma das fábricas cimenteiras, no Arnal.  (Ver mais abaixo nesta página e também na página Freguesia de Maceira.

Segundo testemunhos orais, confirmados por breves referências em registos oficiais, a primeira escola de Maceira, anterior ao edifício construído no final do século XIX e início do século XX por Joaõ Luiz de Souza e cuja fotografia a seguir se reproduz, funcionou, como atrás se mencionou, em casa pertencente à Junta da Paróquia (ver fotografia anterior); por outro lado, não havia residência, a expensas do Estado, para o professor em Maceira, ao contrário do que acontecia noutras localidades.

Com toda a probabilidade, a primeira escola de Maceira funcionou no edifício próximo da Capela de S. João do Arnal, situado na mesma rua que o edifício construído por Joaõ Luiz de Souza, e que serviu durante muitos anos como Sede da Filarmónica do Arnal. Esta casa pertence, ainda hoje, à Paróquia de Maceira e encontra-se bastante degradada (ver fotografia anterior).

 

 Edifício onde funcionou a única Escola Primária de Maceira no início do séc. XX
 Por cima da porta, encontra-se uma lápide onde se pode ler:

Aos Professores

José Bernardo Paula e Júlia Pinheiro da Costa

Gratidão e Homenagem dos Ex-Alunos e Amigos 

 8/2/1976” 

O Prof. Joaõ de Sousa Rodrigues Ribeiro faleceu no lugar do Arnal aos 80 anos, já viúvo de Anna da Conceição da Silva Ribeiro, pelas seis horas da tarde do dia 14 de Novembro de 1905. Não deixou filhos. Encontra-se sepultado no cemitério de Maceira.

 2. Augusto Viriato Gomes d’Oliveira

O seu nome apenas é mencionado num documento ou ‘mapa de vencimentos’ de 1889. Pressupõe-se que terá sucedido ao Prof. Rodrigues Ribeiro que se aposentou em 1886.

 

3. Joze Bernardo Junior

Filho de Joze Bernardo e de Maria Joaquina, do Arnal, fez o seu curso na Escola Normal de Leiria e casou com Maria Paula, natural da Pocariça, após dispensa de impedimento canónico por serem primos em terceiro-quarto grau de consanguinidade. O Prof. José Bernardo de Paula era filho deste casal (ver professor número 1. da Escola da Pocariça, e número 8. desta sequência do Arnal).

O nome do Prof. Joze Bernardo Junior aparece em documentos de 1892 e com a notação de que foi provido como professor de nomeação temporária em 1891 na escola de Maceira. Recebeu nomeação como professor vitalício desta mesma escola por Despacho de 30.7.1894, com o grau de 2ª classe e vencimento de 120$000 (cento e vinte mil réis).

A escola de Maceira esteve encerrada desde 8 de Fevereiro de 1907 até 2 de Abril do mesmo ano «por causa da epidemia de varíola», período em que o professor não recebeu qualquer remuneração.

Leccionou até 1916, data da sua aposentação.

 

4. Julia Pinheiro da Costa

O nome oficial era Julia de Jesus Costa, como aparece nos documentos oficiais; no entanto, a Prof.ª Julia preferia o apelido ‘Pinheiro’, tal como os irmãos.

 

Prof.ª Julia Pinheiro da Costa (1906 – aos 26 anos), quando era Directora do Asilo de Alcobaça

(Cortesia de sua sobrinha, D. Eva Pinheiro da Costa e marido)

 

A Prof.ª Julia nasceu em Leiria a 18 de Setembro de 1880 e era filha de Joaõ Pinheiro da Costa e de Maria da Nazareth Pinheiro da Costa. Este casal, além da Prof.ª Julia, teve os seguintes filhos: Clementina, Palmira, Manuel e Álvaro.

O Manuel foi juíz e casou com D. Amalia Gomes Silva. A sua filha Branca veio a casar com o Eng. Birne (engenheiro das Minas de Urgeiriça), pais do Arq. Gonçalo Birne, que nasceu em Alcobaça, em cujo tribunal trabalhava ao tempo o Juíz Manuel Pinheiro da Costa. Este entendeu por bem acolher em sua casa a filha, prestes a dar à luz, porque as condições para o nascimento do seu neto em Alcobaça seriam melhores do que em Maceira.

 

 Dr. Manuel Pinheiro da Costa (irmão da Prof.ª Julia)

Juíz nas Comarcas de Alcobaça e de Leiria

 (Cortesia de João Birne, sobrinho-neto da Prof.ª Júlia)

 

 Residência, em Leiria, do Juiz Dr. Manuel Pinheiro da Costa

Por sua vez, o Álvaro, a quem a Prof.ª Julia dedicou a fotografia autografada que acima se reproduz, casou com Maria Augusta Santa-Rita, pais de D. Fernanda e D. Eva Pinheiro da Costa, a fonte de algumas informações aqui reproduzidas.

O pai da Prof.ª Julia era primo direito do Cónego Jose Pereira da Costa, que foi Pároco de Maceira e faleceu em 1916 (ver nota 2. da página Linha Paterna).

Em Leiria, a meio da Rua Dr. António Costa Santos (rua entre a Fonte Grande e o Largo Rainha S. Isabel), havia, à direita de quem sobe, uma moradia com capela privativa onde viveu  D. Jacinta, irmã do Senhor Cónego Jose Pereira da Costa. Esta casa foi destruída, há bastantes anos (logo a seguir à actual Foto Paris); pelo contrário, a outra casa que lhe ficava de frente mas um pouco abaixo, à esquerda de quem sobe a rua e também pertencente à família Pereira da Costa, ainda existe: confina com a propriedade e palácio do Dr. Verde, e pertence ao Arquitecto Gonçalo Byrne que adquiriu recentemente (2011) os direitos de outros elementos da família Pereira da Costa sobre esta propriedade indivisa.

 

Prof.ª Julia (1ª à esquerda), com as duas irmãs (Clementina e Palmira), no pátio da casa

 (Cortesia de João Birne, sobrinho-neto da Prof.ª Júlia)

 

A Prof.ª Julia, como o Prof. Joze Bernardo Junior, fez o seu curso na Escola Normal de Leiria, no edifício que se encontra ao fundo do Terreiro, no ângulo da Rua Direita com a Rua João de Deus. Foi propriedade de uma família que, mais tarde, a doou ao Bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva. Durante alguns anos aquele edifício foi ocupado pela Direcção de Finanças. Hoje, encontra-se em ruínas, após ter servido durante algum tempo para abrigar peregrinos de Fátima. A propriedade continua a ser da Diocese de Leiria.

A Prof.ª Julia era uma pessoa muito acolhedora e não tinha atitudes ou gestos de dureza como era habitual em muitos dos professores desse tempo. Exercia a sua profissão com brandura.

Antes de leccionar em Maceira, aos vinte e três anos foi directora do Asilo de Alcobaça, onde se encontrava no ano de 1906 (data da foto anterior autografada, que dedicou ao seu irmão Álvaro) e onde teve como colaboradora a Senhora D. Vergínia Vitorino, avó do Maestro Vitorino de Almeida.

Aberta em 1911 uma vaga para sala de meninas na Escola do Arnal, a Prof.ª Julia nela foi colocada por concurso e aí leccionou até à sua aposentação em Outubro de 1940.

Prof.ª Júlia Costa (2)Prof.ª Júlia (53 anos)
Cortesia da DREC – Coimbra

Faleceu em Leiria no ano de 1959 e recebeu justa homenagem em 1976, com descerramento de lápide evocativa nos edifícios da Escola do Arnal. 

 

Prof.ª Julia Pinheiro da Costa (1957)

 (Cortesia de João Birne, sobrinho-neto da Prof.ª Júlia)

 

5. Manuel de Oliveira Martins

Para substituir Joze Bernardo Junior, Manuel de Oliveira Martins foi nomeado professor temporário da Escola do Arnal (sala dos rapazes) por despacho de 26 de Abril de 1916 com o vencimento mensal de 20$00 (vinte escudos, que correspondem a 10 cêntimos da moeda actual em euros!). Passou a professor definitivo no dia 6 de Fevereiro de 1919, agora com o vencimento de 35$00 (trinta e cinco escudos).

Prof. Manuel de Oliveira Martins 

(Cortesia de suas filhas, Dr.ª Maria Fernanda e Dr.ª Maria João)

O jovem professor Manuel de Oliveira Martins nasceu em Lisboa, filho de Guilhermina da Conceição Santos e de pai incógnito. Fizera a sua formação na Escola Pia de Lisboa, adquirindo competência específica no âmbito das crianças surdas-mudas. 

Segundo testemunhos de quem o conheceu, o Prof. Oliveira Martins era uma pessoa muito comunicativa e bondosa. Era, além disso, muito culto e com rara sensibilidade e bom gosto. Teve intervenção social através de um grupo de teatro, que constituíu com outros jovens, redigindo peças em que a crítica social também estava presente. Enquadrava-as nos ambientes bem conhecidos do povo, como era a Fonte do Arnal e a Senhora da Barroquinha.

 

Grupo de Teatro (1918), após a representação de ‘Romaria à Senhora da Barroquinha’, da autoria do Prof. Manuel de Oliveira Martins (sentado, 1º à direita) e do Eng. de Minas Joaquim Birne (sentado, 2º à direita). Os autores estão vestidos de romeiros.
A Prof.ª M.ª Candida (ao centro, de pé) representou N.ª Sr.ª da Barroquinha e à sua direita encontra-se a Prof.ª Julia, sentada na 2ª fila, vestida de negro e só parcialmente visível. O jovem de pé, à esquerda, é o Eng. Agrónomo José Loreto (de Viseu, a viver com a família Birne)
(Cortesia das Senhoras Dr.ª M.ª João e Dr.ª M.ª Fernanda Martins)

 

Foi no Arnal que o Prof. Oliveira Martins conheceu a sua futura esposa, a Prof.ª Maria Candida de Souza, com quem casou em 1920. Já depois do nascimento da primeira filha em 16 de Agosto de 1921 (a futura Prof.ª Maria Margarida), decidiram partir para Moçambique (Quelimane), onde nasceram as duas filhas Maria João e Maria Fernanda.

Igreja de Quelimane

(Cortesia das Senhoras Dr.ª M.ª João e Dr.ª M.ª Fernanda Martins)

Em 1929, a família veio passar as férias a Portugal, porque o Prof. Oliveira Martins desejava que o nascimento já próximo de sua filha mais nova (a Maria Alice) fosse acompanhado clinicamente, pois estava ainda muito viva a experiência dramática por ocasião do nascimento em Quelimane da terceira filha (Maria Fernanda).

Ainda antes do nascimento da Maria Alice, o Prof. Oliveira Martins teve necessidade de voltar para Moçambique, aguardando aí pelo regresso da esposa e filhas.

Quando a Prof.ª Maria Candida de Souza Oliveira Martins se preparava para regressar a Moçambique nesse mesmo ano de 1929, recebe a dramática e inesperada notícia da morte do marido, vítima de malária; por esse motivo, cancelou a viagem.

Como o Prof. Oliveira Martins era vereador da Câmara Municipal da cidade de Quelimane, foi-lhe dada sepultura condigna por iniciativa da própria Câmara, apesar de não ter ninguém de família consigo, nessa ocorrência.

 

6. Adolfo dos Santos Baptista

Prof. Adolfo (2)Prof. Adolfo
(Cortesia DREC – Coimbra)

Nasceu no lugar do Soutocico, freguesia do Arrabal, em Março de 1900. Foi nomeado, a 22.11.1920, como professor interino (sala masculina) da Escola do Arnal, em substituição do Prof. Oliveira Martins que entretanto decidira rumar para Moçambique, interrompendo as suas actividades docentes.

O Prof. Adolfo manteve-se pouco tempo nesta escola, sendo substituído a 7 de Maio de 1921 por Lucina Guedes Cabral. Faleceu no dia 22 de Fevereiro de 1951.

 

7. Lucina Guedes Cabral

Com a saída do Prof. Martins, que era titular da Escola do Arnal, ficou vaga a sala masculina no ano lectivo de 1920-1921. O Prof. José Bernardo de Paula, titular na escola da Pocariça, concorreu à referida vaga e recebeu nomeação a 10.12.1920. No entanto, manteve-se na escola da Pocariça até ao fim desse ano lectivo.

A Prof.ª Lucina assegurou as actividades lectivas na escola do Arnal durante os últimos meses desse mesmo ano lectivo.

 

 Actual Escola do Arnal (funcionou até 2015)

Uma das placas que se encontram junto do pórtico, à direita, evoca a memória dos Professores: Júlia Pinheiro da Costa e José Bernardo Paula (8.2.1976)
(A anterior escola primária de Maceira funcionou perto desta – ver foto acima)
 Nota: O modelo arquitectónico da actual escola do Arnal é o mesmo da escola primária das Cortes, freguesia também deste concelho de Leiria. O ‘Ministério da Instrução’ (depois chamado ‘Ministério da Educação Nacional’) dispunha, naquele tempo, de arquitectos que desenhavam diversos modelos de escola, conforme os níveis de ensino. O Ministério, ao decidir a construção de um edifício escolar,  seleccionava o modelo que considerava mais ajustado às necessidades e ao local, onde a escola ia ser construída.

 

Escola Arnal - H. Sommer 5Ao cimo da porta, encontra-se a inscrição (quase imperceptível mas confirmada – clicar na foto para ampliar):
Escola Primária Henrique Sommer 

O novo edifício da escola do Arnal foi inaugurado a 17 de Novembro de 1933.

8. José Bernardo de Paula

Iniciou as suas actividades docentes na Escola do Arnal no ano lectivo de 1921-1922, deixando vaga a escola da Pocariça em Julho de 1921, onde leccionara desde 1914.

 Era uma pessoa austera, muito disciplinador mas de competência reconhecida. A Direcção Escolar de Leiria sempre o recrutava para fazer parte do Júri de exames (1º grau ou 3ª classe na escola do Arnal, e do 2º grau ou 4ª classe em Leiria).

Prezava os seus alunos e era severo para os seus desmandos, sobretudo quando se tratava de regras do respeito e da convivência entre todos. Conta-se que puniu severamente um grupo de alunos, após a sua identificação como autores do apedrejamento de um mendigo, o conhecido Zana da Batalha. A partir de então, este homem passava pelas ruas da aldeia sem ser importunado.

O Prof. Bernardo exerceu outras actividades cívicas, como elemento da Junta de Freguesia de Maceira e ainda Ajudante do Conservador de Registo Civil de Leiria. Desta forma se evitava a deslocação, sempre penosa nesses tempos, à cidade de Leiria para legalizar o nascimento das crianças. Muitas vezes, ajudava o pai a escolher o nome e os apelidos da criança a registar (embora nem sempre a sua escolha tivesse sido a mais feliz!). Quantas cédulas de nascimento foram por ele preenchidas e assinadas! Pelo exercício desta função recebia, em 1945, a quantia semestral de 86$58 (pouco mais de quarenta cêntimos na actual moeda em euros), também através do Ministério da Instrução Pública. Este quantitativo dependia do número de cédulas que preenchesse (noutras freguesias, outros colegas em idêntica circunstância recebiam menos de metade!).

O Prof. Bernardo de Paula tinha também um fino sentido de humor, contando histórias como a que se relata na página Regedores em Maceira e referente a Manuel Borges, seu conterrâneo.

Terminou as suas actividades profissionais em Setembro de 1953.

Recebeu justa homenagem no dia oito de Fevereiro de 1976, promovida pelos seus antigos alunos. 

Após uma celebração religiosa na Igreja Paroquial, seguiu-se a romagem ao cemitério e a deposição de um ramo de flores, pelo próprio Prof. Bernardo, na campa do seu aluno mais recentemente falecido, e em memória de todos os outros que já haviam partido.

Nos edifícios das antiga e actual Escolas do Arnal (ver fotos acima) foram descerradas placas de homenagem aos seus dois professores mais representativos: Prof. Bernardo e Prof.ª Júlia. Usaram da palavra, na circunstância, dois distintos filhos de Maceira: o Prof. José Ribeiro de Sousa (ver, mais abaixo, Escola da E. C. L.) e o Rev. Padre António Ramos, antigos alunos do Prof. Bernardo de Paula.

Durante o almoço de confraternização que reuniu mais de uma centena de pessoas, também usou da palavra a Dr.ª Maria Fernanda de Sousa Martins, filha da Prof.ª Cândida e do Prof. Oliveira Martins (ver acima – número 5 –  Prof. Manuel de Oliveira Martins, e mais abaixo as fotos relativas à família João Luiz de Souza), e irmã da Prof.ª Maria Margarida de Sousa Martins (ver mais abaixo Escola da Pocariça), enaltecendo na pessoa do Prof. Bernardo todos os abnegados professores e lembrando, em particular, os seus próprios pais.

O Professor Bernardo de Paula faleceu em 1982 e foi sepultado no cemitério do Arnal, à direita de quem desce pelo corredor central, onde se encontra uma placa evocativa da sua pessoa.

 

 9. Maria Luiza (sala das meninas)

Após ter leccionado na escola feminina da Empreza Cimentos Liz, concorreu para a sala feminina da escola do Arnal, uma vez que a Prof.ª Julia ficou em “inactividade”, a aguardar aposentação, no mês de Outubro de 1940.

A Prof.ª Luiza iniciou actividades na escola do Arnal no ano lectivo de 1941-1942, como professora agregada provisória. 

Prof.ª Maria Luiza 

Tornou-se efectiva na escola de A-do-Barbas, em Setembro de 1944. Podem ver-se outras facetas da sua vida, mais abaixo, quando se faz a sua apresentação como professora na escola da Pocariça.

 

10. Júlia Ferreira Bernardino

Prof.ª Júlia Bernardino a1Júlia Ferreira Bernardino
Cortesia de seu filho, Dr. Rui Pinheiro

Professora regente efectiva, substituiu a Prof.ª Maria Luiza no ano lectivo de 1944-1945. Natural da Azoia, onde nasceu em 1912, deslocava-se para a escola de bicicleta a pedais, primeiro, e, a seguir, de bicicleta com motor auxiliar (o célebre Cucciolo).

Era muito estimada pelas crianças. Certa manhã, como tardasse em chegar à escola, um grupo de alunos pôs-se ao caminho, em direcção à Azoia, para a procurarem, pois temiam que pudesse ter sofrido alguma queda da sua bicicleta.

Terminou as suas funções docentes, leccionando numa escola da serra, próxima de Campelo, no concelho de Figueiró dos Vinhos.

Faleceu, já centenária, em 2012.   

 

11. Ana Rosa Almeida Ruas

Na qualidade de professora agregada definitiva, exerceu as suas funções na sala feminina da escola do Arnal apenas durante o ano lectivo de 1945-1946.

 

12. Celeste da Encarnação Monteiro

Professora regente efectiva, iniciou nesta escola do Arnal as suas actividades em Novembro de 1946, terminando-as no ano lectivo de 1948-1949.

 

13. Júlia Conceição Ferreira

Iniciou as suas actividades docentes nesta escola em Setembro de 1949, como professora efectiva.

 

14. Maria  do Mar de Barros Moreira Wellenkamp

Natural de Leiria, entrou como docente na sala feminina da escola do Arnal no ano lectivo de 1950-1951.

Era uma senhora distinta, que cultivava a boa disposição e a sua aparência. Leccionou posteriormente em Lisboa.  

15. Maria de Lurdes Pereira de Sousa (Urbano)

escola-arnal-prof-lurdesProf.ª Maria de Lurdes Pereira de Sousa
(Cortesia da própria)

Nasceu no Arnal, freguesia de Maceira, filha de José de Sousa (ver Junta de Freguesia e Cultura e Lazer) e de Margarida Pereira. Frequentou a escola da sua aldeia natal, tendo como professoras a Senhora D. Maria Luísa e a Senhora D. Júlia Ferreira Bernardino com quem fez a 4.ª classe e a preparação para o exame de admissão ao Liceu de Leiria. Fez o curso da Escola do Magistério de Coimbra e concorreu para a escola do Arnal onde lecionou vinte anos, desde o ano lectivo de 1957-58 até o de 1977-78, data em que transitou para a escola da Azoia, onde residia após o casamento.

A sua escola predilecta foi, sem reservas, a escola do Arnal, «a sua escola» de infância e de juventude, onde era estimada e de que guarda memórias únicas. 

escola-arnal-turma-femTurma de alunas da Escola do Arnal
A Prof.ª Maria de Lurdes encontra-se na última fila, à esquerda
(Cortesia da própria)
escola-arnal-turma-2Grupo de alunas da Prof.ª Lurdes, na entrada principal da escola

escola-arnal-turma-1958

Turma mista da Escola do Arnal (1975?)
A Prof.ª Maria de Lurdes encontra-se na última fila, à esquerda
(Cortesia da própria)

 Deve-se à sua actuação, bem como à da Prof.ª Odete Rosa, terem sido preservadas em 1975 algumas obras da Biblioteca Popular, que por despacho o então Secretário de Estado do Ministério da Educação Rui Grácio, mandou destruir.

 Escola de A-do-Barbas 

Escola A-do-BarbasEscola de A-dos-Barbas (restaurada)

Esta foi a segunda escola de ‘instrução primária’ a funcionar na freguesia de Maceira. Antes da construção do actual edifício, no Plano dos Centenários, a escola ‘velha’ situava-se junto da capela da mesma aldeia.

Aparece nos registos da Direcção Escolar de Leiria como escola ‘mista’ em Junho de 1907.

 

1. Brigida da Conceição Martins

Nasceu em Leiria no ano de 1885. Por provimento de 28.6.1907, foi nomeada professora temporária da escola mista de A-do-Barbas, aqui se mantendo até Agosto de 1918, data em que foi transferida para a escola do Telheiro (Barreira).

 

2. Maria Clara Dordio Pais

Nomeada como professora temporária, aqui leccionou até Janeiro de 1920, pois transitou para a escola da Batalha e em 1922 para a escola da Azoia.

 

3. Maria Candida de Sousa

Tendo leccionado antes (1919) como professora interina na escola da Azoia, iniciou as suas actividades na escola de A-do-Barbas em Janeiro de 1920, deixando de figurar nas listas de professores do ensino primário em Julho desse mesmo ano de 1920, coincidindo com o seu casamento, gravidez  e posterior ida para Moçambique com o marido Prof. Manuel de Oliveira Martins (ver mais pormenores, nesta mesma página, integrados no capítulo Escola do Arnal e na apresentação de sua filha, Prof.ª Maria Margarida, na secção Escola Nova da Pocariça, e ainda nos capítulos Escola do Porto do Carro e Escola de Maceirinha).

 

4. Joaquina Capelo de Carvalho

Iniciou as suas actividades na escola de A-do-Barbas no dia 9 de Setembro de 1920, como professora temporária.

 

5. Leonor de Jesus Coelho

Foi colocada nesta escola em Fevereiro de 1922, nela permanecendo até Setembro de 1926.

 

6. Maria de Lourdes Figueiredo

Assegurou a escola de A-do-Barbas desde 25 de Setembro de 1926 até Outubro de 1929.

 

7. Maria Amália Lago

Iniciando o exercício de funções em 22 de Outubro de 1929, foi substituída em Setembro de 1931.

 

8. Maria José Silva

Leccionou na escola de A-do-Barbas desde 10 de Setembro de 1931 até 30 de igual mês de 1933. Seguiu-se um período superior a um ano em que ficou vaga a referida escola de A-do-Barbas. Talvez tenha havido a colocação de regente escolar, mas disso não há menção.

 

9. Maria do Céu Sousa

Foi colocada em Novembro de 1934. Abriu novamente vaga nesta escola em Dezembro de 1935, assim ficando durante um mês.

 

10. Adélia Lucinda do Espírito Santo

Iniciou as suas actividades nesta escola em Janeiro de 1936, terminando-as a 30 de Setembro do mesmo ano. A escola ficou vaga, durante mais de um ano.

 

11. Elisa Brites Vieira

Foi colocada em Novembro de 1937, aqui permanecendo até Novembro de 1943, data em que a escola ficou vaga.

 

12. Maria Luiza (Pinheiro)

A escola de A-do-Barbas foi o seu primeiro local como professora efectiva, aqui se mantendo até ao final do ano lectivo de 1946-1947, data em que foi colocada, com o mesmo estatuto, na escola da Pocariça, sua aldeia natal.

 

Prof.ª Maria Luiza, em frente de sua casa, no dia de casamento da afilhada Maria da Graça, também professora

(Cortesia de D. M.ª Benigna Aguiar, seu marido e filha São)

 

 

 

Escola da Pocariça

 

A “Escola Velha” da Pocariça foi construída por Manoel Augusto Monteiro, comerciante nesta aldeia. Este senhor nasceu em Cavalinhos no dia 16 de Novembro de 1873, e os seus pais eram expostos da Santa Casa da Misericórdia (Lisboa e Leiria).

   Registo do baptismo de Manoel Augusto Monteiro

Após o casamento, veio residir para a Pocariça, onde tinha uma loja, posteriormente explorada pelo seu genro José Morouço Angélico, que havia casado com a filha Maria Joaquina Monteiro.

Manoel Augusto Monteiro, também conhecido por ‘cangalhas’ (por usar óculos?), era músico da Filarmónica do Arnal e tocava bombardino. Era um homem atento às novas técnicas e sensível à promoção da cultura. Por isso, a expensas suas, decidiu construir na Pocariça a terceira escola primária da freguesia de Maceira (ao tempo havia apenas as escolas do Arnal e de A-do-Barbas), onde gerações de crianças abriram os seus horizontes e deram os primeiros passos no mundo da cultura.

 

 Escola Velha da Pocariça, a 3.ª escola primária em Maceira

 

Manoel Augusto Monteiro, no dizer do seu neto Eleutério Angélico, foi a segunda pessoa na freguesia a adquirir um aparelho de rádio (então chamado ‘telefonia’), depois de um compadre de Cavalinhos e antes do T’Manel Domingues e do T’Zé Febra.

Exercia as funções de Regedor da Freguesia de Maceira quando, aos quarenta e oito anos, foi morto em dia de festa na aldeia vizinha do Vale da Gunha. Consta que seria republicano (foi o 1º regedor em Maceira após a implantação da República – ver página Regedores em Maceira) e não tinha a simpatia de um grupo de pessoas monárquicas do Arnal. Por outro lado, havia contendas e grave tensão entre o povo desta aldeia do Arnal e o povo da Pocariça, após a divisão da charneca pública dos Matos. 

Consciente destas rivalidades, no dia 14 de Maio de 1922, data da festa da Senhora da Agonia na aldeia do Vale da Gunha, ao fim da tarde e após a actuação da Filarmónica do Arnal, de que fazia parte Manoel Augusto Monteiro, este convidou os colegas a passarem por sua casa, na Pocariça, até com a boa intenção de apaziguar os ânimos do povo das duas aldeias rivais. Era um homem bondoso, ordeiro e trabalhador, no dizer de João Correia Mateus, director do jornal Povo de Leiria (ver, um pouco abaixo, a foto da notícia da sua morte).

Enquanto a Filarmónica actuava junto da casa de Manoel Monteiro, houve quem lançasse pedras contra o grupo de pessoas aí presentes, atingindo e ferindo pelo menos um cidadão da Alemanha que viera do seu país para a montagem da fábrica de cimentos.

Em tribunal, César Napoleão Forte Matias, natural de Setúbal e mestre de serralheiros na montagem da mesma fábrica de cimentos, afirmou como testemunha ocular dos factos: “Foram arremessadas algumas pedras contra o grupo, ferindo uma delas um indivíduo de origem alemã que também seguia no grupo”.

É que alguns populares da Pocariça consideraram uma afronta a passagem pela sua aldeia da Filarmónica do Arnal. Mas a intervenção de Manoel Monteiro, que ao tempo exercia as funções de regedor como atrás se referiu, serenou as pessoas e o cortejo seguiu pela rua principal da aldeia.

Acontece que, quando passavam um pouco abaixo da capela da Pocariça, pelas 20 horas desse mesmo dia 14 de Maio, Manoel Augusto Monteiro foi alvejado a tiro por um jovem conterrâneo – Alfredo Salgueiro que era também seu afilhado. O ferido caiu inanimado mas, pouco depois, recuperou os sentidos e pronunciou o nome do agressor. Foi levado a sua casa e posteriormente conduzido ao Hospital D. Manuel de Aguiar, onde acabou por sucumbir aos ferimentos no dia 15 de Maio de 1922, pelas 14H30.

A autópsia, realizada pelos médicos António Júlio Telles Sampaio Rio e José Coelho Pereira, revelou a existência das portas de entrada e saída de um projéctil que perfurou a veia cava inferior, provocando grave hemorragia interna. Ficou sepultado no cemitério de Leiria, e não em Maceira, talvez para evitar mais tumultos entre o povo das duas aldeias.

Registo do óbito de Manoel Augusto Monteiro

(Cortesia da Senhora D. Maria Fernanda Mendes Moreira)

Ao que consta por vários testemunhos de pessoas do tempo, o jovem Alfredo, que havia completado 19 anos, foi instado e convencido pelo pai a cometer o crime contra o seu próprio padrinho, prometendo-lhe que o libertaria de qualquer castigo ou condenação.

 

 Registo do nascimento e baptismo de Alfredo Salgueiro, com assinatura de Manoel Augusto Monteiro, seu padrinho

Joaquim Salgueiro ‘Velho’ (era este o nome pelo qual era conhecido o pai de Alfredo Salgueiro)  exercia a profissão de alveitar (curandeiro das doenças dos animais; ver registo acima). Era visto com frequência montado num burro que sofria as picadas sistemáticas com a folha de um canivete, pois o seu dono queria que ele andasse com outra velocidade; o pobre animal aparecia muitas vezes a escorrer sangue pelos golpes que o dono insatisfeito lhe abria em qualquer parte do corpo…

Como seria de esperar, o Tribunal de Leiria condenou o jovem Alfredo a «quatro anos de cadeia maior celular ou na alternativa seis anos de degrêdo em possessão de 1ª classe, em África» (sentença de 15.12.1922). O advogado de defesa recorreu desta sentença para o Tribunal da Relação de Coimbra, que, por decisão com data de 13.2.1923, confirmou a sentença do Tribunal da 1ª instância, com uma excepção. Enquanto o Tribunal de Leiria considerou não haver lugar a despesas de custo, por se tratar de uma família pobre, o Tribunal de Coimbra entendeu como não provada essa situação de pobreza, condenando também o réu ao pagamento das taxas do processo previstas por lei.

Curiosamente, aparecem no mesmo processo mais duas acusações apresentadas pelo Ministério Público contra Alfredo Salgueiro: a primeira foi a tentativa frustrada de homicídio com arma de fogo, em Abril do mesmo ano no sítio das ‘Barrocas’ (junto da Igreja Paroquial), contra Joaquim Gomes Inácio, do Arnal; a outra foi uma agressão física a António Francisco Capela, também do Arnal, provocando-lhe incapacidade para o trabalho durante dez dias. Deu-se como provada apenas a segunda destas duas acusações.

Após a condenação judicial, o réu foi deportado para Angola durante os seis anos da pena. Regressou depois à sua terra natal, onde viveu sem diferenças de relacionamento dos conterrâneos, inclusivamente do Eleutério da Silva Angélico, neto do falecido e seu colega de trabalho na Empresa de Cimentos Liz. No imaginário popular, até se tornou um ‘herói’ por ter conseguido resistir aos ataques das feras da selva africana…

A divisão e posterior atribuição às famílias, em 1919, do terreno baldio dos Matos, Fonte do Rei e Covão, entre outros, esteve na origem de tensões graves entre as pessoas das aldeias circunvizinhas (Arnal e Pocariça). Este facto encontra-se referido por uma das testemunhas no processo de julgamento, pelo Tribunal de Leiria, do responsável pela morte de Manoel Augusto Monteiro. Também as actas da Junta de Paróquia de Maceira se fazem eco dessas tensões, até porque alguns se haviam apoderado das serventias, impedindo a passagem dos confinantes; a própria Junta se viu forçada a estabelecer multas contra quem prevaricasse. 

Sendo Manoel Augusto Monteiro o Regedor da Freguesia e também Vogal da Junta, é natural que alguns o considerassem responsável por decisões que poderiam ter sido a origem de contendas e rixas.

A carta enviada por um assinante ao jornal diário de Lisboa «A Época», e publicada na sua edição de 1 de Junho de 1922, refere o clima tenso que se vivia na Pocariça desde 1919. Nesse ano, a Junta de Paróquia, de que fazia parte M. Augusto Monteiro e após autorização superior, procedeu à «divisão feita dentro da Lei e equitativamente» dos terrenos baldios da Charneca (ou Matos), distribuindo-os pelos habitantes da Pocariça e do Arnal. 

Segundo a mesma carta, Joaquim de Sousa Salgueiro incitou os filhos e alguns outros «do mesmo quilate» ao ódio, procedendo à destruição das divisórias e, depois, de todas as sementeiras e plantações que havia nos terrenos que pretendiam, sem terem qualquer direito a eles.

A morte violenta de Manoel Augusto Monteiro relaciona-se com estas circunstâncias, mas talvez não seja a única explicação ou o único factor em causa.

No referido processo de julgamento pelo crime, José da Silva, uma das testemunhas presentes, refere que Manoel Augusto Monteiro e Joaquim de Souza Salgueiro, pai do jovem Alfredo, estavam de “relações cortadas há bastantes anos”.

Na lista dos Regedores em Maceira (ver página com este nome), verifica-se que o nome de Manoel Augusto Monteiro, no ano de 1915, deixa de ser regedor efectivo no mês de Março, sendo substituído por Joaquim de Souza Salgueiro, seu compadre. Mas em Junho do mesmo ano retoma as suas funções como regedor. Por que motivo, passados três meses apenas, Joaquim de Souza Salgueiro é exonerado das suas funções e, mais ainda, substituído por Manoel Augusto Monteiro? É difícil de saber!

Manoel Augusto Monteiro era seguramente uma figura pública, muito estimado e talvez também invejado (a raiz muitas vezes de ódio incontido). A sua morte violenta não passou despercebida do grande público do concelho de Leiria. Disso mesmo são eco as notícias da imprensa local, que a seguir se reproduzem.

A primeira notícia foi publicada no jornal republicano O Povo de Leiria, cujo director era João Correia Mateus, na sua edição de 18 de Maio de 1922.

 

Reprodução da notícia da morte de M. Augusto Monteiro

(Jornal O Povo de Leiria, de 18.5.1922)

 

Também o Padre Jose Ferreira Lacerda, director e fundador do jornal semanário O Mensageiro, na coluna ‘Notícias do Concelho’, publica a notícia do assassinato na edição de 20 de Maio de 1920, e menciona que o falecido era pessoa muito conhecida e estimada, tanto em Maceira como em Leiria. Reproduz-se, em seguida, o teor da notícia:

 

Reprodução da notícia da morte de M. Augusto Monteiro

(Jornal O Mensageiro, de 20.5.1922)
 

Por sua vez, a Junta de Paróquia de Maceira, por proposta do seu Presidente, aprovou, na sua primeira reunião após a trágica ocorrência, um «voto de sentimento pela morte do Vogal que foi desta Junta Manuel Augusto Monteiro, barbaramente assassinado no lugar da Pocariça». (1)

 

Junta de Freguesia de Maceira: inauguração da nova sede em 1957.

O Presidente era o Sr. José de Sousa, (de pé, o quarto a contar da esquerda); do seu lado esquerdo encontra-se o Sr. João Pedro de Faria com o filho Carlos, e à direita o Sr. João de Sousa Rosa (tesoureiro). O Sr. Virgílio Catarino (secretário) encontra-se ao centro, na primeira fila.
(Cortesia do Senhor Virgílio Catarino e esposa, D. Gracinda)

 

Este não foi o único assassinato cometido por elementos da família Salgueiro. Também a Jacinta, irmã do Alfredo, vitimou uma jovem senhora da aldeia de Cavalinhos, pouco depois de casada com um senhor conhecido por ‘Chaminé’. Foi um crime passional: a Jacinta pretendia casar com este homem por quem se apaixonara, mas, como não era correspondida, decidiu eliminar a sua rival. Enquanto esta lavava roupa na fonte da aldeia, a Jacinta surpreendeu-a pelas costas, cravando-lhe uma faca.

Condenada, cumpriu a pena no Forte de Caxias, deixando uma filha com cerca de dois anos, a Isabel, entregue aos avós. A Jacinta saíu da prisão já muito adoentada, falecendo algumas semanas depois em casa dos pais.

Também o irmão Manuel cegou violentamente a esposa, pelo que ficou conhecido por ‘Tira olhos’ (para além de homicídio recente, cometido por outro familiar). Era igualmente público o comportamento agressivo da Josefina para com o marido. Quando este faleceu, vestiu-se de vermelho, dizendo: ‘Já devia ter morrido há um século!’. Todas estas (e outras) circunstâncias levaram ao estabelecimento de uma opinião pública menos abonatória, hoje bastante diluída, sobre a família Salgueiro («Salgueiros: ou assassinos ou sanguinários»).

Voltando à figura de Manoel Augusto Monteiro, como foi referido deve-se-lhe a construção da escola primária da Pocariça. A primeira referência oficial a esta escola, com abertura de vaga para professor, data de Abril de 1913. Esta vaga manteve-se aberta, sem preenchimento, pelo menos até Dezembro desse mesmo ano. É provável que tenha começado a funcionar em Outubro de 1914. De facto, sabe-se que António Mathias (Novo) e a sua geração a frequentaram, e tudo leva a crer que o Prof. Bernardo a inaugurou como professor (terminara a sua formatura em Julho de 1914).

Segundo a lei de então, todo o professor agregado a uma escola deveria residir junto da mesma. Embora continuasse a residir no Arnal, o Prof. Bernardo cumpriu formalmente a lei, alugando quarto numa casa próxima da escola, ainda que nunca o tenha usado.

A Escola Velha, com sala única, funcionou até Junho de 1949. Em Outubro deste mesmo ano, foi inaugurada a Escola Nova, construída no Programa dos Centenários da Fundação (1143) e da Restauração (1640) de Portugal.

Quando as aulas passaram para a Escola Nova, o edifício da anterior escola ficou desactivado e em breve tempo se degradou por completo. Acabou por ser destruído, ficando um memorial naquele espaço, de que faz parte o azulejo que a seguir se reproduz, da autoria de Arlindo Domingues.

 Memorial no Largo da Escola

Azulejo com a imagem da cabina eléctrica ao centro, do Poço do Povo à esquerda e da’Escola Velha’ à direita (imagem em destaque)

Homenagem  aos  Senhores Professores que leccionaram na Escola Primária da Pocariça:

 

‘Escola Velha’: Sala única (rapazes e raparigas)

 

1. Jose Bernardo de Paula (1896-1982)

Nasceu a 9 de Março de 1896, filho do Prof. Jose Bernardo Junior e de Maria Paula. Após a instrução primária, aos 18 anos diplomou-se na Escola Normal de Leiria no ano de 1914.

Segundo a lei vigente, o professor ‘primário’ devia residir no local da escola onde leccionasse. Para cumprir a lei, o Prof. Bernardo alugou um quarto numa residência próxima do edifício da escola da Pocariça, mas nunca o ocupou, deslocando-se da sua residência do Arnal quando dava aulas nesta mesma escola.

Jose Bernardo de Paula (1914, aos 18 anos)

(Fotografia integrada no grupo dos finalistas da ‘Escola Normal’ de Leiria, e seus Mestres, a qual a seguir se reproduz)

Fotografia do Curso da Escola Normal de Leiria, no edifício da Câmara Municipal desta cidade, em 1914

(Cortesia do sobrinho do Prof. Bernardo, José Luís e esposa D. Lurdes)

 Pátio da Câmara Municipal de Leiria

 (Local da fotografia anterior)
 

 1.(a) Aurora da Encarnação Augusto

Foi nomeada como professora interina a 22 de Outubro de 1917, porque o Prof. Bernardo “foi chamado para a vida militar como recruta”.

 

1.(b) Irene Pereira Barata Carvalhão

Nomeada por despacho de 21.3.1918  como professora da escola da Pocariça, apenas ocupou esta vaga a 10.3.1919, substituindo a Prof.ª Aurora. Terminou as suas funções com o regresso do Prof. Bernardo a esta mesma escola, após a vida militar, a 6.8.1919.

Por sua vez, o Prof. Bernardo, que obtivera o grau de professor definitivo a 18.2.1920, deixou vaga a escola da Pocariça em Julho de 1921. É que, por despacho de 10.12.1920, fora nomeado para a escola do Arnal, lugar que ocupou até à sua aposentação (ver acima Escola do Arnal).

 

 2. Amélia Campos Ribeiro Valinho

A escola da Pocariça ficou vaga até à tomada de posse da Prof.ª Amélia em 20.7.1922. Era natural de Mira de Aire e alugou casa junto da Escola, conforme a lei. Recorria a castigos físicos quando havia qualquer acto de indisciplina ou que prejudicasse outras crianças. Por exemplo, certo dia castigou severamente um aluno por, numa das traquinices próprias dos miúdos, ter urinado, de cima de um pinheiro, sobre os colegas que tomavam uma pequena refeição à sombra daquela árvore, no intervalo das aulas.

Leccionou entre 1922 e 1926. Interessava-se muito pelos alunos a quem transmitia, além dos conhecimentos escolares programados, conselhos de boa educação.

3. Higina Angélica dos Santos Faria

Foi nomeada como docente da escola da Pocariça a 28.8.1926 e em 1928 fez permuta da escola, passando para os Marrazes. Foi colocada numa escola de Lisboa, para onde concorrera, em 24.2.1944.

 

4. Júlia Pereira do Vale

Vinda da escola dos Marrazes, por troca com a Prof.ª Higina, entrou na escola da Pocariça a 7.11.1928, onde permaneceu até Janeiro de 1932, data em que abriu vaga.

 

5. Maria da Silva Araújo

Prof. Maria Silva Araújo (2)Prof.ª Maria S. Araújo (30 anos)
(Cortesia da DREC – Coimbra) 

Nasceu em S. Paio de Frossos, concelho de Albergaria-a-Velha, a 9 de Fevereiro de 1905. Eram seus pais João Martins da Silva Araújo e Ana da Silva de Pinho.

Foi nomeada por despacho de 29.1.1932, ficando a leccionar até ao fim do ano lectivo, apesar da nomeação da Prof.ª Dora com data de 11.2.1932.

6. Dora de Araujo Vilar Coelho

Prof.ª Dora Araújo (2)Prof. Dora Araújo V. Coelho (35 anos)
(Cortesia DREC – Coimbra) 

Nasceu a 6 de Julho de 1885 na freguesia da Encarnação, em Lisboa, filha de Eduardo Augusto Vilar Coelho e de Maria das Dores Araújo. 

Iniciou as suas actividades na escola da Pocariça no ano lectivo de 1932-1933.

Segundo o testemunho de uma das suas antigas alunas, era uma senhora muito disciplinadora, sem recorrer a castigos físicos. Arrendara uma casa situada perto do limite que separa a Pocariça e o lugar do Vale da Gunha. Acontecia por vezes haver crianças que chegavam à escola muito sujas. Antes de iniciarem as aulas, a Prof.ª Dora mandava-as ir a sua casa, que era próxima, para que a sua empregada as lavasse convenientemente; só depois voltavam para as aulas.

Permaneceu na Escola da Pocariça até 26.3.1942, data em que entrou em ‘inactividade’ (por doença?), aguardando a aposentação.

Turma de alunos da Prof.ª Dora (1933), na Escola da Pocariça (lado sul do edifício). Todos são rapazes e provinham desta aldeia e das aldeias vizinhas 

(Cortesia do Senhor Virgílio Catarino e esposa, D. Gracinda)

7. Aurora Ana Sardinha

Manteve-se na escola da Pocariça como professora agregada, até Maio de 1943.

 

8. Júlia Joaquina de Sousa

Era regente escolar e substituíu a Prof.ª Aurora. Era uma pessoa pouco dinâmica no desempenho das suas actividades docentes.

 

9. Maria Luiza (Pinheiro)

  

Prof.ª Maria Luiza, em frente da sua casa

(Cortesia da prima, D. M.ª Benigna Aguiar, seu marido e filha São)

A Prof.ª Maria Luiza nasceu a 20.4.1915. A sua mãe, Maria da Encarnação, faleceu precocemente vítima da pneumónica e não chegou a casar-se com Alfredo Ferreira de Sousa, natural da Azoia e pai da Prof.ª Maria Luiza. Esta, durante a doença e após o falecimento da sua mãe, ficou ao cuidado da tia, Maria da Luz, que sempre a acompanhou até falecer.

Alfredo Ferreira de Sousa sempre assumiu a paternidade e desejava casar-se com Maria da Encarnação, mãe da pequena Luiza. O casamento não aconteceu porque entretanto surgiu a doença e posterior morte da senhora. Parece que, talvez pela mágoa, o Alfredo não conseguiu ‘segurar’ a sua vida pessoal e económica, mas entregava fielmente o dinheiro necessário para a subsistência e estudos da filha. O mediador neste processo terá sido o tio da Prof.ª Luiza, o Tenente Francisco António Pinheiro, figura controversa entre o povo da aldeia pela sua dureza e antipatia (parece ter atado uma pobre mulher – a Ti Irene – a uma árvore do seu eucaliptal na Marinha Pequena, quando a surpreendeu a recolher ramos caídos e secos).

A jovem Maria Luiza estudou no Colégio de Nossa Senhora de Fátima, uma instituição de ensino particular (=não estatal) em Leiria, dirigida por religiosas dominicanas.

Diploma de exame do Curso Geral do Liceu

(Cortesia da prima, D. M.ª Benigna Aguiar, seu marido e filha São)

O Reitor do Liceu de Leiria, que assina o documento, era o Dr. Agostinho Gomes Tinoco, figura muito prestigiada na cidade pela sua acção cívica e artística: além de outras iniciativas, promoveu os célebres “Saraus de Arte em Leiria” na década de 50-60, convidando figuras de reconhecido valor nacional e internacional que intervinham no Grémio Literário de Leiria, na Rua Machado Santos (o então jovem e já afamado pianista Sequeira Costa, discípulo de Vianna da Motta, é um exemplo). A sua esposa, D. Carlota Tinoco, era pianista com grande fama pelos concertos que dava, por exemplo na então Emissora Nacional e que ainda hoje são retransmitidos, por vezes, na Antena 2.

A Prof.ª Luiza era muito austera e mesmo severa. Tinha o respeito de todos os alunos, até porque o seu tom de voz o impunha: era uma voz forte e viril. Procurava ensinar com grande responsabilidade, mas por vezes o medo que algumas crianças sentiam não facilitava a aprendizagem.

Afirmava, com orgulho contido, que todos os alunos que levou aos exames da 3.ª e da 4.ª classe ficaram aprovados, com excepção de um que ela própria reprovou no exame da 3.ª classe, pois fazia parte do Júri.

Mas havia outra faceta, embora mais reservada e por isso menos evidente: era uma senhora sensível às dificuldades dos outros e empenhada na sua solução. Quem privou mais de perto com ela sabe que isto é verdade. É que também ela teve a experiência de dificuldades e privações durante a infância. Teve um problema grave de saúde (poliomielite) e conta-se que andava descalça, mesmo no Inverno e por cima de geada, como era aliás costume nesse tempo.

As primeiras experiências de calçado em crianças nem sempre foram bem sucedidas. Um rapazinho de A-dos-Pretos faleceu dramaticamente, nos anos quarenta do século XX, por feridas infectadas nos pés (tétano? sépsis?), provocadas por calçado feito de madeira e alguns elementos de metal.

Antes de ser colocada como professora titular da Escola da Pocariça, sua aldeia natal e sucedendo à Prof.ª Júlia Joaquina de Sousa, a Prof.ª Luiza leccionou Língua Francesa no Colégio de Nossa Senhora de Fátima, em Leiria, onde antes tinha sido aluna. Leccionou igualmente na escola feminina da Empresa Cimentos Liz (no tempo dos Professores Esteves, Nunes Pereira e Fausto), desde 1939 a 1941. Neste ano lectivo (1941-1942) concorreu para a escola do Arnal, onde ficou até 1944, data em que transitou para a escola de A-do-Barbas. Iniciou a sua actividade como professora na escola da Pocariça no ano lectivo de 1947-1948.

A sua cultura era muito ampla e os interesses que cultivava iam da Botânica à Arqueologia e da História e Geografia à Numismática. Possuía uma colecção invejável de moedas antigas do tempo romano, além de fósseis e utensílios do Paleolítico.

Redigia com rara beleza porque dominava perfeitamente a Língua Portuguesa. Ficaram célebres os artigos que escreveu e publicou no jornal paroquial de Maceira Luz e Vida, usando o pseudónimo Rosa Silvestre.

Quando encerrou a sala da Escola Velha da Pocariça, a Prof.ª Maria Luiza continuou a leccionar na Escola Nova, agora na sala das raparigas.

  Escola Nova da Pocariça

 

 

Escola Nova da Pocariça, com a entrada para a sala das meninas ao fundo, e a dos rapazes em primeiro plano

  

‘Escola Nova’, onde leccionaram (até 1957):

Sala dos rapazes:

1. Álvaro da Costa Lopes

Leccionou apenas durante este ano lectivo (até Julho de 1950). Constou que adoeceu por varíola e já não regressou. Era professor regente agregado. 

2. Diamantino da Silva Matias

A convite da Casa do Pessoal da Empresa de Cimentos Liz e a expensas desta mesma empresa, o então alferes Matias deu aulas de Educação Física na escola da Pocariça durante o ano lectivo de 1948-1949. Era uma pessoa muito simpática e agradável, cativando os miúdos e ajudando-os a interiorizar determinados exercícios de importância vital.

cap-diamantino-matias-2Capitão Diamantino Matias
(Cortesia de seu filho Rui Matias)

A par da escola da Pocariça, dava aulas também na escola do Arnal, para além das escolas da ECL. Também lecionou Educação Física no Liceu de Leiria. 

3. Maria Margarida de Sousa Martins

Prof.ª Maria Margarida de Sousa Martins

 Com a mãe na 2ª foto e…

…em 1948 com as irmãs, no dia da formatura da Dr.ª M.ª João – Medicina (1ª à esq.) e da Dr.ª M.ª Fernanda – Matemática (1ª à direita).

 Sentada, está a irmã mais nova, Maria Alice (pianista e mãe de cinco filhos: João Pedro – médico; Maria de São José – doutorada em Veterinária; Maria de São Luís – engenheira agrónoma; Manuel – arquitecto e Miguel – engenheiro civil). Faleceu em Lisboa e encontra-se sepultada no cemitério do Arnal, em jazigo da família.

 Ao centro, encontra-se a mãe (Prof.ª M.ª Cândida). A Prof.ª M.ª Margarida é a 2.ª à direita

(Cortesia de suas irmâs, Dr.ª Maria João e Dr.ª Maria Fernanda)

NOTA

Pela importância que a família da Prof.ª Maria Margarida teve em Maceira, a nível económico, social e cultural, considero justa a nota a seguir descrita.

  

Joaquim de Souza Rodrigues, filho de Jose de Souza Rodrigues e de Joaquina Clemencia (ou Joaquina Maria), nasceu no Arnal, freguesia de Maceira, a 18 de Julho de 1833. Os seus avós paternos chamavam-se Rodrigo de Souza e Valentina Maria, e os maternos Joaquim José Ribeiro e Clemencia Maria. Note-se o apelido Rodrigues (=filho de Rodrigo) e o nome Valentina (o povo diz: Blintina). Era, pois, irmão do Prof. João de Souza Rodrigues Ribeiro (ver acima Escola do Arnal e no final da página Freguesia de Maceira).

Registo de Baptismo de Joaquim de Souza Rodrigues

(Note-se a caligrafia da assinatura do padrinho, Joaquim Joze de Souza)

Joaquim de Souza Rodrigues casou na Sé Catedral de Leiria a 21 de Fevereiro de 1859 com Mathilde Candida de Souza, natural de Pataias. Presidiu a este casamento o Pároco de Maceira, Anastacio Francisco das Neves, com a presença dos Párocos de Leiria (Manuel Ribeiro Carvalho, antigo pároco de Maceira) e de Pataias (Francisco Ribeiro Dimpano da Fonseca, que foi testemunha ou padrinho de casamento). Este casal viria a ter como neta a Prof.ª Maria Candida, e bisnetas a Prof.ª Margarida e as suas irmãs atrás mencionadas.

Prof. Joaquim Rodrigues e esposa, D. Mathilde Candida

(Bisavós da Prof.ª Margarida)

(Cortesia das Senhoras Dr.ª M.ª João e Dr.ª M.ª Fernanda)

Joaquim de Souza Rodrigues, em 1879, aparece como sócio da Empreza Fabril Maceirense, dedicada ao fabrico de vidraça no Vale Salgueiro (ver Actividades económicas em Freguesia de Maceira). Foi professor em Pataias, onde exerceu  a sua profissão com grande austeridade e mesmo dureza, como era aliás comum naquele tempo; pelo contrário, a sua esposa, D. Mathilde, era muito generosa e dava alimentos a muitos dos habitantes das redondezas. Este casal  teve três filhas:

1. Maria Nazareth: casou com o seu primo Jose Birne, filho de Anna (irmã do avô da Prof.ª Maria Candida, Joaquim de Souza Rodrigues) e de um senhor com o apelido Birne (origem irlandesa), que, em meados do séc. XIX, emigrou para a Marinha Grande e veio a ter importância decisiva na indústria do vidro nesta cidade. Enquanto cursava Medicina, o Jose Birne perdeu em grande parte a sua capacidade visual. (Ver página Enquadramento Histórico) 

2.  Maria Candida: casou aos 50 anos com um senhor de Pataias, de apelido Raimundo e também ele cinquentenário. A cerimónia foi discreta, considerando a idade dos nubentes, uma idade então vista como pouco oportuna para casar! Esta senhora foi madrinha de Baptismo da Prof.ª Maria Candida (daí o seu nome), bem como da sobrinha-neta Dr.ª Maria João.

3. Maria Encarnação Souza: casou com Joaõ Luiz de Souza (pais da Prof.ª Maria Candida).

Joaõ Luiz de Souza

(Cortesia de suas netas, Dr.ª Maria João e Dr.ª Maria Fernanda Martins) 

Joaõ Luiz de Souza deixou o seu nome ligado a Maceira, como empresário da indústria de cimentos, cerâmica e adubos, bem como pela construção de vários edifícios. Além da sua casa inicial ou ‘Casal da Fonte’ onde viveu posteriormente a Prof.ª Maria Candida e ainda hoje vivem, como segunda residência, as filhas Dr.ª Maria João e Dr.ª Maria Fernanda,

Casal da Fonte, primeira residência de Joaõ Luiz de Souza

também construíu  o edifício onde actualmente funciona a Sede do Clube do Arnal (ACRA ou Associação Cultural e Recreativa do Arnal).

Associação Cultural e Recreativa do Arnal (ACRA)

Casa restaurada, conservando ainda as cantarias originais das portas, janelas, varanda e pequenas guaritas; na cave existiam as máquinas de fabrico de cimento, mais tarde adaptadas para lagar de vinho e azeite.

(Podem observar-se os pormenores pela amplificação da imagem, clicando-a com a seta do rato, o mesmo acontecendo em todas as outras fotografias)

Este edifício foi construído para segunda residência de J. Luiz de Souza, mas sobretudo para nele instalar as máquinas necessárias para a produção de cimento. Aqui viveu os últimos anos da sua vida, falecendo a 28 de Abril de 1931, com sessenta e quatro anos, após acidente vascular cerebral.

 

Registo do óbito de João Luiz de Souza

Foi herdeiro desta casa e anexos o filho Vergilio Ernesto de Souza (Vergílio Felisberto), figura conhecida em Maceira pelo seu carro de praça e por ter uma característica física rara (polidactilia pré-axial: tinha seis dedos na mão esquerda). Esta propriedade foi depois vendida em praça pública, pois o Vergilio aceitara ser fiador de um conhecido negociante de madeiras do Arnal, Manuel Ferreira, cuja empresa entrou em falência. 

Na cave da sua residência, Joaõ Luiz de Souza montou as máquinas necessárias para o fabrico de cimento. Foi uma das primeiras, se não mesmo a primeira fábrica deste produto em Maceira, na sequência das investigações sobre os jazigos de pedra marno-calcárea feitas pelo Prof. João de Souza Rodrigues Ribeiro, irmão do sogro de João Luiz de Souza.

À semelhança da Quinta do Paraíso, também por ali passava uma corrente de água, com caudal suficiente para mover os moinhos de pedra. Mais tarde, foram adaptados para lagar de azeite e vinho. Em frente deste edifício, do lado norte, Joaõ Luiz de Souza montou ainda uma cerâmica (provavelmente a primeira que existiu em terras maceirenses).   

Houve um forno de cozedura de pedra na área que hoje faz ângulo entre a estrada das Mangas que dá para a Rotunda do Mercado (Intermarché) e a estrada que segue para a Marinha Grande. Terá sido o primeiro forno de cimento em Maceira e pertencente a J. Luiz de Souza. Esta hipótese condiz com a informação do Cón. Pereira da Costa, ao referir, na sua Breve Memoria da Freguesia de Maceira, que J. Luiz de Souza construíra na Gândara uma fábrica de cimento.

De facto, por um lado, ficava próxima da matéria-prima já estudada pelo seu familiar, o Prof. Joaõ de Souza Rodrigues Ribeiro, e, por outro lado, o transporte era relativamente fácil até aos moinhos do Arnal. (Ver página Freguesia de Maceira

Esse forno estava situado perto do local onde mais tarde foi construído o edifício da ‘Sopa dos Pobres’ e próximo da Casa da Direcção da Empresa Cimentos Liz. A nascente, foi aberta a pedreira da ‘Pouca Sorte’, propriedade da firma Cimentos Maceira, fundada por J. Guedes e com quem fez sociedade Joaõ Luiz de Souza. Na mesma área, existiu a Sede (ou Casa do Pessoal, conhecida por Sede da Pouca Sorte) e o campo de futebol, à semelhança das instituições da Empresa Cimentos Liz.

A fabricação de cimento nesta área já vem do tempo dos romanos. Foram encontrados restos de cimento branco e de cimento mais escuro perto do local do moinho de cimento instalado na Quinta do Paraíso em 1893 (ver página Freguesia de Maceira), os quais se podem reportar ao tempo dos romanos.

Sabe-se que, bem perto deste local, existiu uma vila romana, cujos mosaicos eram de uma beleza extraordinária, conforme pode testemunhar o autor destas linhas. Infelizmente, estes painéis desapareceram e o seu paradeiro é, ainda hoje, desconhecido. 

Joaõ Luiz de Souza vendeu, mais tarde, a sua empresa cimenteira a Henrique Sommer, proprietário da Cimentos Liz, que entretanto não cumpriu o contrato de pagamento da sua dívida, por ter surgido a grande recessão económica de 1929. Terá respondido ao antigo proprietário: “Olha: é a pouca sorte!”.

Esta foi, certamente, a origem do nome pelo qual ainda hoje é conhecida a empresa Cimentos de Maceira: “Fábrica da Pouca Sorte”… De facto, sabe-se que Henrique Sommer teve dificuldades financeiras graves naquela fase da grande crise económica de 1929, que correspondeu com a fundação da sua empresa Cimentos Liz em Maceira (ver parte final da página Freguesia de Maceira).

Joaõ Luiz de Souza, como homem empreendedor que era, fundou ainda uma empresa de adubos, não distante das unidades de cimento e de cerâmica, a cem metros para nascente. Utilizava para isso, além de outros ingredientes biológicos, o excedente da pesca de caranguejos que transportava em carros de tracção animal. 

Construíu igualmente o edifício da Escola Primária de Maceira, ainda hoje existente mas degradado, no Arnal (ver fotografia acima). É provável que tenha pensado na sua filha Isaura, que nasceu em 1898, desejando que o edifício fosse inaugurado quando ela completasse os sete anos, idade em que por lei as crianças iniciavam a escola primária, o que aconteceu em 1905. (2)

A filha mais velha de Joaõ Luiz de Souza, Maria Candida (nascida em 1895), frequentou a escola do avô. Como o Prof. Joaquim de Souza Rodrigues, sogro de Joaõ Luiz de Souza, era professor em Pataias,  juntou em sua casa dois netos para os iniciar nas letras: a Maria Candida e o Joaquim (ver foto a seguir), filho de Jose Birne e de D. Mª Nazareth. Terminados os estudos básicos, a Maria Candida continuou a sua formação em Leiria, onde também fez o Curso da Escola Normal que a habilitou como professora do ensino primário.

A Prof.ª Candida ficou viúva aos 34 anos, com quatro filhas, tendo a mais velha (a Prof.ª Maria Margarida) apenas oito anos. É nestas circunstâncias que ela vai prosseguir as suas funções docentes, como professora do Ensino Primário, interrompidas em 1920.

Leccionou primeiro na Batalha (1930), e, no ano seguinte, na escola do Porto do Carro, para onde se dirigia diariamente, a partir do Arnal, montada num burro e sendo precedida, na travessia dos pinhais, por um rapaz que batia em latas para afastar os lobos. No ano seguinte foi transferida para a Escola Primária de Castanheira de Pera (1932). É então que o Pároco de Maceira, P. José Casimiro, resolve mover influências (era oficial do Exército) no sentido de se proceder à construção de uma escola no lugar de Maceirinha, para que a Prof.ª Candida pudesse aí leccionar, sem necessidade de sair da freguesia da sua residência. (Ver página Párocos de Maceira)

Assim aconteceu: em 1933, a Prof.ª Maria Candida regressou a Maceira e inaugurou a escola de Maceirinha, onde permaneceu como professora até à sua transferência para a escola do Bairro da Boavista em Lisboa, no ano de 1942 e após a intervenção pessoal do Ministro da Educação, Pires de Lima, que conhecia um tio da Prof.ª Candida, a residir na Praia das Paredes. É que desejava estar perto das suas filhas que tinham sido admitidas no Instituto do Professorado Primário Dr. Sidónio Pais em Lisboa, uma residencial para os filhos dos professores do ensino primário.

Quanto à sua filha primogénita, Maria Margarida, após o ensino primário na escola do Arnal, entrou no referido Instituto Dr. Sidónio Pais, em Lisboa, cidade onde também fez o Curso de Magistério Primário. Iniciou a sua actividade docente na escola primária de S. Aleixo, no Alentejo.

Em 1950 foi transferida para a Escola Nova da Pocariça, onde, nesse ano lectivo, foi professora da quarta classe também do autor destas linhas. Em 1955, após processo, foi transferida para Moçambique. De regresso a Portugal, fixou residência em Lisboa, onde faleceu a 18 de Fevereiro de 2016. Ficou sepultada no cemitério do Arnal, em jazigo de família.

Sala das raparigas:

Maria Luiza (Pinheiro)

 Prof.ª Maria Luiza

Inicialmente com apenas duas salas, a Escola Nova da Pocariça sofreu depois transformações, quer ao nível do espaço (foi construído um segundo piso), quer ao nível do funcionamento.

 

Actual escola da Pocariça, após a ampliação

De facto, alguns anos após a sua inauguração, começou a haver turmas mistas (meninos e meninas) e chegou a funcionar durante algum tempo, da parte da tarde, uma turma de Telescola (5º e 6º anos de escolaridade), de que a Prof.ª Maria Luiza foi Monitora.

A Prof.ª Maria Luiza aposentou-se em 1982 e viveu os últimos anos da sua vida com a prima, D. Maria Benigna Aguiar, curiosamente sua aluna nos dois primeiros anos do ensino primário, na Escola do Arnal.

Caricatura da Prof.ª Maria Luiza, realizada no Hotel Baleeira em 2000

(Cortesia da prima, D. M.ª Benigna Aguiar, seu marido e filha São)

Faleceu a 13 de Outubro de 2000, dia ligado a Nossa Senhora de Fátima, de quem a Prof.ª Maria Luiza era muito devota. Ficou sepultada na campa das tias (D. Adelaide, mãe do Capitão José Pinheiro, e Maria da Luz). De facto, o seu primo, Capitão José Pinheiro, sobrinho do Tenente Pinheiro atrás referido, assinara em data remota um documento oficial reconhecido pelo seu Comandante no Quartel do Porto, autorizando a sepultura da Prof.ª Luiza na campa da sua mãe e tia Maria da Luz. 

Escola do Porto do Carro

Escola Porto do CarroEscola do Porto do Carro

As informações disponíveis permitem afirmar que esta escola começou a funcionar em Janeiro de 1918. Indicam-se, a seguir, os seus primeiros professores.

 

1. Aurora Dias

Iniciou as suas actividades na escola do Porto do Carro a 7 de Janeiro de 1918, onde se manteve até Junho de 1919.

 

2. Luiza Pereira Barata Carvalhão

Leccionou pouco tempo nesta escola (até Outubro deste mesmo ano de 1919).

 

3. Clorinda Nunes Ferreira

Natural de Chaves, foi colocada nesta escola do Porto do Carro, como professora temporária, a 29.10.1919, passando ao estatuto de professora definitiva a 6.12.1922. Manteve-se nesta escola até 1931.

Era muito severa, mas conseguia preparar muito bem os seus alunos, a quem se dedicava e exigia provas de aprendizagem. Os seus alunos distinguiam-se pela caligrafia impecável.

4. Maria Candida de Sousa

A Prof.ª Candida já foi anteriormente apresentada, quando se descreveram os professores da escola do Arnal (o seu marido foi o Prof. Oliveira Martins), bem como os professores da escola da Pocariça (a Prof.ª Maria Margarida de Sousa Martins era a sua filha primogénita).

Conforme também já se referiu, a Prof.ª Candida deslocava-se para a escola do Porto do Carro, a partir de sua casa no Arnal, fazendo-se transportar num burro, através dos pinhais e acompanhada por um rapaz que batia em latas para espantar os lobos, que, nesse tempo, ainda eram frequentes nesta região.

Leccionou na escola do Porto do Carro até 1932, data em que transitou para a escola de Castanheira de Pera.

 

5. Clorinda Nunes Ferreira

Voltou para a escola do Porto do Carro em Dezembro de 1932, onde se manteve até 1946.

 

6. Maria Otília dos Santos Neves

Era regente escolar e leccionou na escola do Porto do Carro durante um ano.

 

7. Maria Graciete Rodrigues de Matos

Iniciou as suas actividades docentes, como regente efectiva, em Janeiro de 1948.

 

8. Clorinda Nunes Ferreira

Regressou à escola do Porto do Carro em Janeiro de 1949, onde permaneceu durante este mesmo ano.

 

9. Maria Odete da Silva Martins

Foi nomeada para esta escola em 1950.

 

 

Escola de Maceirinha  

Escola MaceirinhaSegunda Escola de Maceirinha (junto da Capela)

A primeira escola primária de Maceirinha foi construída no sítio da Eira, na região noroeste da aldeia. A influência do então prior de Maceira, P. Casimiro, que era oficial do Exército, foi decisiva para que iniciasse o seu funcionamento.

De facto, o nome da escola de Maceirinha aparece já mencionada nos documentos de 1929, mas esteve vaga até ao seu provimento com a nomeação de professor, o que só ocorreu em Dezembro de 1933.

 

1. Maria Candida de Sousa (Oliveira Martins)

Foi a primeira professora da escola de Maceirinha, transitando da escola de Castanheira de Pera e depois de ter sido professora na escola de Porto do Carro. Leccionou em Maceirinha até  15.11.1942, data em que foi nomeada para o Bairro Social da Boavista, na 16.ª zona de Lisboa, acompanhando assim as suas filhas que tinham conseguido Bolsa de Estudo no Instituto do Professorado Primário Dr. Sidónio Pais, em S. Sebastião da Pedreira.

 

2. Elvira Ferreira

Nomeada em Outubro de 1943, mas supostamente não chegou a leccionar na escola de Maceirinha, sendo substituída pela Senhora Prof.ª Maria Aida Ventura.

 

3. Maria Aida Dias da Cruz Ventura

Era professora regente e leccionou até ao fim do ano lectivo de 1943-1944.

 

4. Joana Maria

Iniciou as suas actividades docentes na escola de Maceirinha em Janeiro de 1945, vindo da escola de Cavalinhos, onde trabalhara no ano lectivo anterior. (Ver a seguir Escola de Cavalinhos, nesta mesma página)

Era Regente Escolar, mas muito considerada pelo seu trabalho e dedicação aos alunos. Dizia-se mesmo que, apesar de ser apenas regente escolar, obtinha maior sucesso com os seus alunos do que alguns professores diplomados. Pertencia ao quadro efectivo de Regentes Escolares do Distrito de Leiria, desde Setembro de 1942.

Trabalhou em Maceirinha até ao final do ano lectivo de 1948-1949, transitando para a escola de Alcogulhe de Baixo, freguesia da Azoia. Voltou a leccionar em Cavalinhos em 1954, durante dez anos. Finalmente, foi colocada na escola de Mouratos, freguesia de Parceiros, onde terminou a sua carreira em 1985, já diplomada como Professora após a realização do seu Curso, em regime nocturno, na Escola do Magistério de Leiria.

Prof.ª Joana Maria e marido, Vergilio Neto

(Cortesia de sua filha Dr.ª Maria de Lurdes e marido, Dr. Vítor Lourenço)

Faleceu, em Lisboa, a 27 de Outubro de 2009 e está sepultada no Cemitério do Arnal.

 

5. Vergínea Correia Fernandes

Era igualmente regente escolar e iniciou o seu trabalho nesta escola de Maceirinha em Novembro de 1949.

6. Umbelina Conceição Ribeiro

Nasceu em Alcaria (Porto de Mós) em 1930. Após ter leccionado em várias escolas, veio para a escola de Maceirinha e desta passou para a Barreira (Leiria) onde se radicou. Faleceu a 23 de Outubro de 1992 com 62 anos de idade, vítima de doença oncológica.

 

Posto Escolar da Venda 

Escola Venda - PostoEdifício onde funcionou o Posto Escolar da Venda (1.º andar)

Já em 1888, conforme atrás se mencionou, que o Administrador do concelho de Leiria solicitava a abertura de uma escola na «Venda dos Pretos». Os anos passaram e apenas a meados da década de quarenta do século XX foi possível prover com regente escolar uma sala a que foi atribuída a categoria de Posto Escolar. Para ele convergiram as crianças do Vale da Gunha, A-dos-Pretos e Telheiro, as quais tinham anteriormente de se deslocar à Escola da Pocariça.

Este Posto Escolar, adaptado para o efeito e cedido por empréstimo pelo seu proprietário, João Catarino, funcionou durante alguns anos, os suficientes para a construção de raiz de uma nova escola, agora situada em A-dos-Pretos.

 

Escola de A-dos-Pretos  

Escola A-dos-PretosEscola de A-dos-Pretos (Maceira)

Em Janeiro de 1941, aparece nos registos oficiais como escola de lugar vago para professor e, em Outubro de 1942, mantém-se ainda escola vaga, mas agora com dois lugares. Estas datas coincidem com a construção do edifício.

Admite-se que, entretanto, continuasse aberto o Posto Escolar da Venda. Não foram encontrados registos concludentes sobre o funcionamento deste Posto, conforme já se referiu.

Segundo testemunhos orais, a inauguração do novo edifício em A-dos-Pretos aconteceu em Maio de 1952. Estes dados não coincidem com os registos oficiais, de que a seguir se dá conta. 

1. Carminda Amado Nogueira

Aparece o seu nome em Novembro de 1946, como estando a leccionar nesta escola de A-dos-Pretos. 

 

2. Cecília Encarnação Ferreira

Era regente efectiva e trabalhou nesta escola de A-dos-Pretos desde Fevereiro de 1948.

 

Escola de Cavalinhos

Escola Cavalinhos

A primeira referência a esta escola data de Janeiro de 1943, como estando vaga.

 

1. Joana Maria

Nasceu a 8 de Março de 1920 em Maceira, mais concretamente na aldeia da Ribeira. Aos 21 anos, a 6 de Outubro de 1941, prestou provas de aptidão para a Regência de Postos de Ensino e, um mês depois, obteve provimento como agregada na Regência Escolar do Distrito de Leiria, sendo colocada na escola da Torre (Reguengo do Fetal).

Foi a primeira professora da escola de Cavalinhos, iniciando aqui as suas actividades em Março de 1943. No ano seguinte, transitou para a escola de Maceirinha, conforme já se mencionou.

 Prof.ª Joana Maria

(Cortesia de sua filha Dr.ª Maria de Lurdes e marido, Dr. Vítor Lourenço)

2. Isaura da Conceição Martins Filipe

Iniciou a sua actividade docente na escola de Cavalinhos, em Novembro de 1944.

 

3. Maria de Lourdes Barosa Pinheiro

Era regente agregada a um Posto Escolar e passou a leccionar na escola de Cavalinhos em Novembro de 1946. Durante vários anos deixou de haver menção a qualquer professor relacionado com esta escola. Terá sido encerrada provisoriamente? 

 

Escola de Vale Salgueiro

Escola Vale SalgueiroEscola de Vale Salgueiro
(espaço hoje ocupado pelo Clube de Caça)

Aparece mencionada, a primeira vez, em Janeiro de 1944, sendo professora a regente agregada Maria Amélia Almeirim da Silva 

Escola da Costa de Cima

Escola Costa 2

Escola CostaEscola da Costa de Cima

 

Escola construída recentemente (finais do século XX).

Escolas Primárias da Empresa Cimentos Liz

Esta empresa cimenteira, sediada na Gândara, sempre teve uma característica peculiar nos seus princípios: não se preocupava apenas com o lucro directo e a sua prosperidade económica; entendia que a empresa seria tanto mais saudável quanto mais promovesse os seus trabalhadores, não apenas a nível profissional, mas também a nível sanitário, cultural, desportivo, de lazer e religioso.

Foi neste contexto que os seus dirigentes fundaram as duas escolas de ensino primário (masculina e feminina) da ECL, exclusivamente para os filhos dos seus operários.

Decisão irreflectida e mãos precipitadas conduziram, há poucos anos, à destruição do espólio documental desta instituição escolar. Por isso, as notas seguintes, inevitavelmente incompletas, resultam do testemunho de alguns professores felizmente ainda vivos, ou de pessoas que com eles viveram de perto e a quem deixo a expressão do meu agradecimento.

Inicialmente, havia apenas um edifício com duas salas (masculina e feminina), inaugurado em 1928.

 

 Escola Primária da E. C. L. (1.º edifício)

 

No final desse mesmo ano lectivo (Verão de 1929), foi inaugurada a Colónia Balnear de S. Martinho do Porto para as crianças desta Escola Primária.

Com o aumento significativo do número de crianças com direito a frequentar o ensino primário na escola da Empresa de Cimentos Lis, a Administração decidiu construir novo edifício, ficando o primeiro apenas como escola feminina (o número de meninas era bastante menor que os rapazes).

Escola Primária Masculina e Aula Infantil da E. C. L. com quatro salas (2.º edifício)
Inaugurado a 3 de Maio de 1939
(XVI aniversário da inauguração da Fábrica) 

Havia nesta Escola um enquadramento pedagógico inovador: a criança era recebida aos seis anos na chamada ‘aula infantil’ (um ano antes da escolarização regulamentada por Lei). No dizer do seu Director em 1951, o Prof. Dinis Esteves, a criança era deste modo preparada para receber «os elementares ensinamentos que lhe ministramos».

O sujeito educativo era perspectivado como um todo integral. Assim, havia a preocupação com a saúde e a higiene, a alimentação e o exercício físico, a estimulação intelectual e a participação social, o desporto e o teatro.

Por sua vez, a selecção dos mestres era cuidada e havia a preocupação de, em princípio, cada um dos professores acompanhar os alunos desde o início até ao fim dos quatro anos da escolaridade obrigatória.

O primeiro Director da Escola Primária da E. C. L. foi o Prof. José dos Santos que, a expensas da Empresa, se preparou pedagogicamente na Bélgica para o exercício das suas funções. Foi despedido, desconhecendo-se as razões, em Junho de 1937. Sucedeu-lhe o Prof. Manuel dos Santos, substituído pelo Professor Esteves em 1944.

Com a nacionalização dos cimentos, após o 25 de Abril de 1974, as obras sociais da Empresa de Cimentos Lis foram sendo progressivamente desmanteladas e a componente cultural perdeu a relevância que tivera durante decénios.

Estes edifícios escolares estiveram praticamente abandonados durante algum tempo, após cedência dos mesmos à Câmara Municipal de Leiria.

Entretanto, a nordeste dos mesmos e contígua, foi construída a actual Escola C+S de Maceira, hoje integrada no Agrupamento de Escolas Henrique Sommer. Por sua vez, os antigos edifícios escolares da Empresa de Cimentos foram também recuperados e servem de estrutura de apoio ao referido Agrupamento.

Escola C+S MaceiraEscola C+S Maceira 

 

  

Escola masculina

José dos Santos

O seu nome figura em documentos existentes no Arquivo da Casa do Pessoal, relativos ao ano de 1935.

ecl-texto-do-prof-jose-dos-santosExtracto da alocução do Prof. José dos Santos, a 27 de Outubro de 1935
(1.º aniversário da fundação da Casa do Pessoal da ECL)
Cortesia: Arquivo Histórico Fábrica de Maceira – Secil

 

Em contexto das férias das crianças na Colónia Balnear de S. Martinho do Porto, Agostinho de Campos, autor da expressão «arrabalde da Utopia» para caracterizar a ECL, refere-se ao Prof. José dos Santos como «pedagogo bem orientado e entusiasta, que na Bélgica se preparou, a expensas da Empresa de Cimentos, para as suas melindrosas funções educativas e docentes».

ecl-agost-campos-utopia-2Descrição de Agostinho de Campos
  Cortesia: Arquivo Histórico Fábrica de Maceira-Liz – Secil

Por nota escrita nos Cadernos do Eng. Benjamim Pinto, sabe-se que este professor foi despedido em Junho de 1937.

Manuel Sanches Martins Adão (1939-1941)

Manuel António dos Santos 

Natural de Caxarias, concelho de Ourém, frequentou o Seminário de Leiria e iniciou a sua actividade docente na escola da Empresa em 1935. Para programar o ano lectivo de 1939, foi nomeado Director da Escola da E. C. L., cargo que exerceu até final das suas funções em Setembro de 1943 e que interrompeu por motivos familiares.

Prof. Manuel dos Santos, sua esposa e filho Luís
(Cortesia do sobrinho, Eng. Joaquim A. Rebelo, esposa Dr.ª Rosa Maria e filha, Eng.ª Eduarda)

Homem recto, foi muito apreciado e louvado pela sua acção pedagógica durante o exercício das suas funções docentes e de direcção nas escolas da E. C. L. Ao terminou a sua actividade nesta Empresa, a Direcção decidiu gratificá-lo com o correspondente a dez meses de vencimento e passar-lhe um «atestado honroso, como merece».

 

Joaquim Nunes Pereira

Era uma pessoa reservada e pouco acolhedora para os alunos. Mas dedicava-se-lhes de modo a que aprendessem e tivessem bons resultados.

Colaborou, de perto, com o seu cunhado Vergílio de Sousa na investigação histórica sobre a freguesia de Maceira, em particular o período da romanização (ver página Notáveis de Maceira).

Terminou as suas actividades docentes a 30 de Setembro de 1954, conforme referido em documento de natureza fiscal, encontrado no arquivo da Biblioteca da Casa do Pessoal da ECL.  

António Fausto Gonçalves

O Prof. Fausto era sensível para com os seus alunos.

Cessou as atividades docentes a 24 de Abril de 1951, conforme referido em documento de carácter fiscal, encontrado no arquivo da Biblioteca da Casa do Pessoal da ECL, e após inquirição por queixa, segundo é referido em acta da Direcção da mesma Casa do Pessoal.

Manuel Lopes Pereira

Natural de Fátima (Chã), era uma pessoa geralmente sociável. A sua boa disposição prolongava-se durante as aulas, ‘facilitando a vida’ aos alunos, embora por vezes fosse rude para com eles.

Francisco de Almeida Oliveira

Entrou ao serviço na escola da ECL em 1942, tendo sido responsável pela Biblioteca da Casa do Pessoal, organizando-a e catalogando os livros. Passados mais de setenta anos, mantêm-se os ficheiros e a organização da Biblioteca. A sua dedicação e eficiência foram reconhecidas e louvadas pelos órgãos dirigentes da empresa.

António Dinis Esteves

Nasceu no concelho de Tortozendo, em 1917 e fez o seu curso na Escola do Magistério em Lisboa. Iniciou em 1937 as suas actividades docentes em escolas oficiais.

Prof. António Dinis Esteves

(Cortesia de sua esposa, D. Maria do Céu S. Lopes Dinis)

Alguns anos depois, foi colocado na Escola Primária da Marinha Grande, onde teve oportunidade de conhecer, em grupo de amigos, a Prof.ª Isabel Mansilha que o referenciou ao Eng. Rocha e Mello.

No ano lectivo de 1944-1945 transitou para a escola da E. C. L., sendo nomeado seu Director, cargo que exerceu até à sua aposentação em 1983.

Prof. António Dinis Esteves e esposa, Sr.ª D. Maria do Céu Dinis

(Cortesia da Senhora D. Maria do Céu)

O Prof. Esteves era uma pessoa bem disposta, com sentido de humor e muito amigo. O seu bom coração, no entanto, não lhe impediu que na escola e no exercício das suas funções profissionais assumisse uma posição de autoridade, ou mesmo de rigor extremo.

Há quem considere que era autoritário: tal percepção poderá ter nascido do facto de alguns dos seus colegas professores lhe enviarem por vezes os alunos mais indisciplinados, para que, como Director da Escola, os admoestasse: e, nestes casos, tomava um ar muito sério. Noutros casos era ele próprio que castigava veementemente quem considerasse culpado. 

Participava activamente nas actividades extra-escolares e consta que era um bom actor sempre que era incluído no elenco das peças de teatro.

Faleceu em 2004 e encontra-se sepultado no cemitério do Arnal.

 

José Ribeiro de Sousa

Nasceu em Maceira, na aldeia da Costa de Baixo, no dia 24 de Janeiro de 1920, filho de Manuel Ribeiro de Sousa e de Maria da Luz de Sousa.

Iniciou os primeiros passos no contacto com as letras pelos 4-5 anos, quando teve oportunidade de olhar para o título do jornal diário A Época, editado em Lisboa, com o qual a mãe costumava embrulhar o farnel que o pai levava quando ia trabalhar para o campo.

Manuel Ribeiro de Sousa tinha aprendido a ler com um mestre da vizinha aldeia da Costa de Cima, de nome Antonio dos Santos Narciso. Este mestre, para ensinar as crianças, usava a Cartilha Maternal de João de Deus. Era um homem com deficiência motora causada por meningite infantil, mas encontrou esta forma de se tornar útil à comunidade, recebendo em casa crianças a quem ensinava a ler e a escrever, num tempo em que os acessos à escola oficial eram difíceis e, por outro lado, havia nela interrupções frequentes.

Esta situação não era, aliás, inédita nesta aldeia. Como atrás foi referido, antes de haver uma escola oficial em Maceira, já em 1844 o mestre Joze Coelho ensinava na Costa de Cima três discentes.

Ao ver o interesse e curiosidade do filho pelas letras do jornal, Manuel Ribeiro de Sousa começou a transmitir-lhe o gosto pela leitura e a fazer a sua iniciação. De tal modo aprendeu, que, ao chegar à escola, o pequeno José Ribeiro de Sousa transitou para a segunda classe, pois a Prof.ª Júlia Pinheiro da Costa rapidamente verificou que seria perda de tempo obrigá-lo a fazer a primeira classe.

Pouco tempo depois de iniciar as aulas com a Prof.ª Júlia, que assumira as turmas masculina e feminina por impedimento temporário do Prof. Bernardo de Paula, passou a ser acompanhado por este último. No entanto, não mais esqueceu um gesto bondoso da Prof.ª Júlia.

José Ribeiro de Sousa tinha recebido uma caixa de cartão com seis lápis de cor, que o pai lhe ofereceu como prenda pela sua entrada na escola, recomendando-lhe que os estimasse. Ora, aconteceu que o colega de carteira, o Zé Sucata – miúdo desordeiro e agressivo, deu um murro por cima da caixa dos lápis, partindo-os em pedaços.

Ao ver destruídos os seus lápis, as recomendações do pai tornaram-se ainda mais vivas e o pequeno José Ribeiro de Sousa começou a chorar. Apercebendo-se do facto, a Prof.ª Júlia, inteirada do que se passara, entregou ao seu aluno um outro conjunto de lápis, com a recomendação de nada dizer ao pai.

Mas Ribeiro de Sousa não teve coragem de esconder o sucedido. É então que o pai procura o miúdo traquina e rebelde, para o admoestar seriamente. Depois disso, Zé Sucata tornou-se o amigo e protector de José Ribeiro de Sousa.

Por influência do tio José Pereira de Sousa, pessoa muito religiosa que construíu e dotou a Capela de S. António da Costa de Baixo, José Ribeiro de Sousa ingressou no Seminário de Leiria, onde foram apreciados os seus dotes literários e, em especial, a sua veia poética, já descoberta pelo Prof. Bernardo durante a escola primária.

Mas não era a vida eclesiástica que desejava seguir, pois desgostava-o a rigidez da disciplina que imperava no Seminário. Interrompeu os estudos durante o quinto ano, regressando à sua aldeia natal para grande desgosto, em primeiro lugar, do seu tio. Não conseguiu voltar a estudar, ainda que tenha solicitado ao pai para o fazer. «Ou padre, ou cavador!», respondeu-lhe o pai, na esteira do tio.

Prof. José Ribeiro de Sousa
(Cortesia de seus filhos, Maria Helena e José Manuel) 

Ficou a trabalhar no campo, durante dois anos, mas o seu olhar ia muito para além das tarefas que executava ou da organização dos trabalhadores que o pai lhe confiara, algum tempo depois.

Olhava a Natureza, e deixava-se impressionar pela sua força e ritmo de estações. Mas era sobretudo o Povo, com o seu linguajar, os seus cantares, as suas tradições orais, costumes, trajes, lendas e contos, a interessá-lo e a motivar uma recolha do folclore e etnografia desse mesmo Povo. Foi, neste contexto, o animador de um programa na Rádio Batalha, com a colaboração do etnólogo Alberto Sousa e do jovem Paulo Matias, ambos da Pocariça.

Prof. Ribeiro de Sousa a interpretar folclore regional, em flauta transversal, com gravação de som pelo Prof. etnólogo José Alberto Sardinha
(Cortesia do Senhor Preceptor José António Travaços Mendonça Santos)

Não fora este contributo do Prof. Ribeiro de Sousa, e ter-se-ia perdido um património riquíssimo do Povo de Maceira. O acervo desta recolha ao longo de mais de sete décadas encontra-se publicado na obra Cancioneiro entre Mar e Serra da Alta Estremadura, editado em 2004 pela Câmara Municipal de Leiria. (Ver página Artistas de Maceira)

A ele se deve, por exemplo, a memória da ‘Lenda de Nossa Senhora da Maceira’, transcrita na nota 1. da página Freguesia de Maceira, e uma oração dirigida a Nossa Senhora, cantada na Igreja Paroquial por duas jovens, que, em loas, alternavam as suas vozes cristalinas. Foi um dia memorável, pois arrebatou emoção profunda a todos os que enchiam a Igreja. As vozes eram a de Gracinda Gonçalves, de Maceira-Lis e futura esposa do Prof. Ribeiro de Sousa, e a de Deolinda Faria, do Arnal, acompanhadas ao órgão pelo próprio Prof. Ribeiro.

Gracinda Maria Gonçalves e Deolinda Faria: as vozes

Em 1939, Ribeiro de Sousa concorreu para uma vaga no escritório da E. C. L., sendo facilmente seleccionado pelas suas habilitações literárias e qualidades pessoais. O seu primeiro trabalho foi ser «chapeiro» (cada operário tinha uma chapa individual que recebia ao entrar na fábrica, marcando a hora de início do trabalho; devolvia-a, quando terminava o seu dia laboral).

Ribeiro de Sousa depressa conheceu todos os trabalhadores e o seu respectivo número, de modo que, apenas via alguém aproximar-se da entrada, imediatamente pegava na respectiva chapa e entregava-a, sem demora nem espera, mal o operário passasse junto da porta. Mas era um trabalho repetitivo e sem horizontes…

Algum tempo depois começa a exercer actividades no escritório, mas também estas o não satisfazem! Verifica, com amargura, a série de intrigas entre colegas de trabalho e o propósito ilimitado de alguns em ascender à custa dos outros…

Em 1944, é convidado pelo Eng. Rocha e Mello a preencher uma vaga na escola primária, sendo para isso necessário conseguir o diploma ministerial para exercer funções docentes, o que não foi fácil porque o seu nome figurava na lista de suspeitos políticos da PIDE. A obtenção do diploma tornou-se possível só depois da intervenção pessoal e directa do Administrador da Empresa de Cimentos junto dos responsáveis do Ministério da Instrução, em Lisboa.  

Vencido mais este obstáculo, pôde iniciar então o seu estágio pedagógico, durante alguns meses, com o Prof. Esteves e Director da Escola.

Prof. José Ribeiro de Sousa
(Cortesia de seus filhos, Maria Helena e José Manuel) 

Já professor autónomo, usou métodos pedagógicos inovadores para o tempo, mas eficazes na aprendizagem participada pelos alunos. Chegou a ensinar a leitura, cantando poemas seleccionados de poetas portugueses: foi um êxito, segundo refere.

Prof. José Ribeiro de Sousa
(Cortesia de seus filhos, Maria Helena e José Manuel) 

Nas actividades culturais, estava sempre presente e muito participativo: teatro (actor e encenador), canto, entre outros. Foi também um grande cultor de columbofilia.

 Prof. José Ribeiro de Sousa

 

Com os seus 91 anos (em 2011, por ocasião de entrevistas) mantinha-se activo, escrevendo poemas e dedicando-se a actividades que preenchiam o seu tempo.

Foi justamente homenageado pela Junta de Freguesia de Maceira a 20 de Junho de 2011, durante as celebrações do XX aniversário da elevação de Maceira a Vila.

Faleceu na Academia de Maceira, a 25 de Janeiro de 2013.

Diamantino da Silva Matias (capitão)

Convidado pelo Cap. Raúl Crespo, membro da Direcção da Casa do Pessoal, foi o primeiro professor de Educação Física nas escolas da ECL, bem como das escolas do Arnal e da Pocariça.

Muito cordial e agradável no trato com os miúdos, facilmente os captava no sentido de realizarem os exercícios físicos e, ao mesmo tempo, transmitia-lhes regras de vida saudável.  

cap-diamantino-matiasCapitão Diamantino Matias
(Cortesia de seu filho Rui Matias)

Fernando Gonçalves do Amaral

Nasceu na freguesia de Carnide, em Lisboa, no ano de 1912. Aí treinou e dirigiu o clube de Carnide, que ganhou o campionato nacional em várias modalidades desportivas, durante anos sucessivos, particularmente no basquetebol.

Figura de renome a nível desportivo, como treinador e seleccionador nacional de Basquetebol em 1949, foi convidado a orientar as crianças, jovens e adultos ligados à E. C. L. para que esta empresa fosse um centro de irradiação a nível das várias modalidades do desporto português. E conseguiu-o, mercê da sua visão, perseverança e dedicação ao trabalho.

Foi um dos fundadores do jornal A Bola, no qual colaborava frequentemente e para o qual fez a cobertura jornalística dos Jogos Olímpicos de Helsínquia em 1952. 

Acompanhou várias gerações de atletas, havendo a atestá-lo inúmeras taças, medalhas e outros galardões recebidos, nas diversas modalidades, pelos lugares cimeiros alcançados pelos participantes de equipas da referida empresa.

Como outros professores da escola da E. C. L., leccionou no Posto de Telescola que funcionou nesse centro, no final dos anos sessenta do século XX.

Prof. Fernando Amaral

   

Faleceu no dia 1 de Junho de 1998 e ficou sepultado em Maceira. 

Escola feminina

Maria Isabel Rosa Mansilha

Era uma senhora de humor variável e talvez por isso tomasse atitudes para com os alunos a rondar a agressividade declarada.

Havia ‘festa’ quando aparecia uma avioneta, a baixa altitude, rondando o edifício escolar. O piloto deixava então cair um pequeno paraquedas, sobre o pátio da escola, transportando mensagens dirigidas à sua  namorada, a Prof.ª Isabel Mansilha.

Deixou de leccionar, quando foi transferida para os escritórios da Companhia Cimentos de Moçambique, em Lisboa, a 2 de Janeiro de 1962.   

Maria Alice Mansilha

Muito afável e dotada de grande sensatez. Personalidade bem diferente da irmã.

Abandonou as actividades docentes na escola da ECL para exercer funções no escritório da Sede da Empresa Cimentos Liz, em Lisboa, e, posteriormente, emigrou com o marido para os Estados Unidos da América do Norte (Miami).

Maria Luisa Pinheiro

Prof.ª Maria Luisa (Pinheiro)

Leccionou na escola feminina desde 1939 a 1941, data em que concorreu para a escola do Arnal, ficando colocada também como professora da sala feminina (ver atrás).

 

Matilde Pontes

ecl-prof-a-matilde-pontesProf.ª Matilde Pontes
(Cortesia do Arquivo Histórico Fábrica Maceira-Liz – Secil)

Publicou um livro, com intuitos pedagógicos, para dar a conhecer Portugal aos mais novos. Na parte final da obra, apresenta a «cidade de sonho e de beleza» que é Maceira-Liz.

ecl-prof-matilde-pontes-livro

ecl-prof-matilde-pontes-dedicatExemplar, com dedicatória da autora, existente na Biblioteca da Casa do Pessoal da ECL
(Cortesia do Arquivo Histórico Fábrica Maceira-Liz – Secil)

Maria Amélia Macedo

 Era uma pessoa afável, dedicando-se aos seus alunos de forma moderada.

Maria Ofélia Macedo

Ao contrário da sua irmã, era muito austera mas dedicada aos seus alunos. Terminou as suas actividades nesta escola de modo compulsivo, após processo disciplinar movido pela entidade patronal. 

Zaida Pereira dos Santos

Prof.ª Zaida Santos (foto do passaporte com data de 12 de Julho de 1965)
(Cortesia dos Senhores Eng. Herlander Francisco e Eng. Carlos Fernandes)

Personalidade complexa e polémica, nasceu a 20 de Janeiro de 1926, na freguesia de Marrazes (Leiria).

Exerceu funções de auxiliar da Escola Feminina da Empresa de Cimentos de Leiria. Embora não fosse diplomada, ascendeu na hierarquia de funções na mesma empresa.

Após alguns anos de actividade docente, foi convidada para exercer funções de Assistente Social (Técnica de Serviço Social) na referida empresa de Cimentos Liz, mantendo as suas características de personalidade polémica.

Pelo trabalho escrito que deixou com a recolha de dados sobre as famílias dos operários, autêntico manancial para estudo sociológico, merece especial referência. Nele se espelha espírito metódico e austeridade germânica. Talvez pelas suas qualidades se tenha feito notar aos responsáveis pela Empresa e tenha ascendido na hierarquia de responsabilidades atribuídas.   

Faleceu a 4 de Junho de 2015 e foi sepultada na freguesia dos Marrazes, onde nascera.  

Maria Laura de Lima Moreira

Nasceu na freguesia da Sé, no Porto, em 1927. Após o curso do Magistério, leccionou em escolas oficiais, esteve em Moçambique e, regressando a Portugal, foi convidada pelo Director da E. C. L. para leccionar na escola primária da empresa. Iniciou as suas actividades no ano de 1962 na aula infantil; poucos anos depois, substituiu na escola primária a Prof.ª Zaida, entretanto colocada como Assistente Social da Empresa.

 

   Prof.ª Maria Laura de Lima Moreira

(Cortesia da própria)

Com a abertura de um Posto de Telescola na E. C. L., acumulou funções no ensino primário e leccionação de disciplinas a nível do Ciclo Preparatório.

Quando a empresa cimenteira foi nacionalizada, ingressou de novo no ensino oficial (escola da Pocariça), aposentando-se em 1989.

Cordial e comunicativa, também conseguiu cativar a amizade de pais e alunos.

Maria Virgínia da Encarnação Rego

Natural de Mirandela, onde nasceu a 19 de Dezembro de 1937, teve uma infância feliz, rodeada de familiares com um nível cultural invejável para a maioria do povo português. Figuras como Joaquim Trigo de Negreiros, Gonçalves Rapazote e Adriano Moreira, faziam parte ou da família ou do grupo de amigos; Aquilino Ribeiro era o escritor preferido e presente pelas suas obras literárias.

Frequentou a Escola do Magistério Primário de Viseu, cidade onde conheceu o futuro marido. Tendo este sido colocado como engenheiro na fábrica de cimentos da E.C.L., a Prof.ª Virgínia candidatou-se, na Direcção Escolar de Leiria, a uma escola da freguesia de Maceira: foi colocada na Escola Primária de Porto do Carro.

Não chegou a tomar posse deste lugar porque, entretanto, o engenheiro-director da ECL, Pinto Gonçalves, decidiu convidá-la para ocupar o lugar deixado vago pela Prof.ª Isabel Mansilha.

Aceitou o convite e iniciou as suas actividades docentes na Escola Primária da Empresa de Cimentos em Outubro de 1961, onde ficou a ser a mais jovem professora.

A sua actividade docente foi considerada ‘exemplar’, até porque as alunas que acompanhava faziam a ‘diferença’ nos exames finais de escolaridade.

Entretanto, o marido (Eng. José Esteves) decidiu desvincular-se da empresa e foi trabalhar para a Marinha Grande, o que não foi bem recebido pela Direcção da E.C.L., que tudo fez para que a Prof.ª Virgínia deixasse também a escola desta empresa. Não havendo razões justificativas para tal, foi entretanto submetida a alguns ‘vexames’ como, por exemplo, ter de abandonar a residência integrada na área de quadros superiores da empresa.

Em Setembro de 1972, foi ‘despedida’ das suas funções docentes  nesta escola da empresa cimenteira, alegando a direcção apenas o facto de o marido já não pertencer aos quadros da E.C.L.

Deixou, no entanto, entre os colegas, alunas e pais, grande saudade e a percepção de perda de uma profissional competente e devotada, mas acima de tudo uma mulher que sabia ser ‘mãe’ das alunas que lhe tinham sido confiadas.

Estas mesmas características foram o timbre da Prof.ª Virgínia durante os largos anos de actividade docente nas escolas da Ordem, Trutas, Pero Neto e Cumeira, na Marinha Grande.

Nos anos difíceis da pré- e pós- ‘Revolução do 25 de Abril’, primou pela dedicação e generosidade: chegava à escola pouco depois das oito horas da manhã, embora a entrada oficial fosse às nove, para receber as crianças que as mães deixavam antes de irem para os seus empregos.

Sabe-se que, antes de começar as aulas, fazia a higiene de algumas crianças, dando-lhes inclusivamente o seu próprio lanche, sob alegação de que não precisava dele porque já estava com muito peso…

Fazia-o sempre de modo discreto  e com grande simplicidade, fundamentada na sua fé em Deus, em Quem confiava, e confia, sobretudo nos momentos mais difíceis da sua vida: ainda hoje assim o diz com os olhos a brilhar…

 Prof.ª Virgínia Rego

(Cortesia da própria)

É por ser público este seu modo de estar na vida, que, já aposentada, continua a receber provas de gratidão e de muito apreço da comunidade marinhense em geral e dos seus antigos alunos em especial.

  

 

Aula infantil

Amélia Franco

Maria Dulce Agostinho Jorge

Nasceu em 1935 e frequentou a aula infantil da escola da E. C. L. em 1941, sendo a educadora, ao tempo, a Prof.ª Amélia Franco. Mas nem esta nem a professora da 1.ª classe (Prof.ª Matilde) lhe deixaram saudade. Pelo contrário, as irmãs Maria Amélia Macedo (2.ª classe) e Maria Ofélia Macedo (3.ª e 4.ª classes) marcaram-na profunda e favoravelmente, apesar das diferenças de uma e de outra.

Fez o curso de Educadora no Instituto João de Deus, em Lisboa, e exerceu a sua actividade em Tomar (Escola João de Deus) desde 1954 até 1968, data em que aceitou o convite para trabalhar na escola onde dera os primeiros passos da sua formação intelectual.

Foi a primeira Educadora de Infância, diplomada nesta área, a exercer funções na Aula Infantil da escola da E. C. L. e onde permaneceu até à sua aposentação em 1992, embora já integrada nos últimos anos no ensino oficial após a nacionalização da empresa de cimentos.

     Prof.ª Maria Dulce A. Jorge

(Cortesia da própria)

 

Muito amável e acolhedora, atributos que cultivou ao longo dos anos de actividade profissional, marcou gerações de crianças. Dotada de sensibilidade, dedicou-se à jardinagem e ao cultivo das artes plásticas, nos últimos anos da sua vida. Faleceu aos 81 anos, no dia 16 de Julho de 2016.

(Outubro/2010)

(Revisto em Outubro/2016) 

 [1] Ver p. 509, n.º 7, do “Directorio impresso na Officina de Miguel Rodrigues juntamente com o Alvará de 17 de Agosto de 1758” in Collecção da Legislação Portuguesa desde a ultima compilação das Ordenações, Redegida pelo Desembargador Antonio Delgado da Silva, Legislação de 1750 a 1762. Lisboa: Typographia Maigrense, anno de 1830, pp. 507-531.

[2] A expulsão ocorreu a 12 de Janeiro de 1759 e, por Alvará de 28 de Junho do mesmo ano, foram banidos do ensino. Mais tarde, em 1772, o Marquês de Pombal não se poupou a críticas contra os Jesuítas: «Entre os funestos Estragos, com que pelo longo período de dous Seculos se vírão as Letras arruinadas nos mesmos Reinos e Dominios, se comprehendêrão as Escolas Menores, em que se formão os primeiros elementos de todas as Artes, e Sciencias; achando-se destruídas por efeitos das maquinações e abusos, com que os temerários Mestres, que por todo aquelle dilatado período se arrogaram as sobreditas Escolas, e as direcções delas, em vez de ensinarem e promoverem o ensino dos seus Alumnos, procuraram distrahillos, e impossibilitar-lhes os progressos desde os seus primeiros tyrocinios». Ver Collecção da Legislação Portuguesa desde a ultima compilação das Ordenações, Redegida pelo Desembargador Antonio Delgado da Silva, Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typographia Maigrense, anno de 1829, p. 612.  Ver ainda: Joaquim Ferreira Gomes, ‘O Marquês de Pombal Criador do Ensino Primário Oficial, in Revista de História das Ideias, vol. 4, tomo II (1982), pp. 25-41.

 [3] «Sendo impraticavel, que se formasse em toda huma Nação hum Plano que fosse de igual comodidade a todos os Póvos, e a todos, e a cada hum dos Particulares deles, sendo certo , que todos os sobreditos concorrem na unidade da causa do interesse publico, e geral; he conforme a toda a boa razão, que o interesse daqueles Particulares, que se acharem menos favorecidos, haja de ceder ao Bem Commum, e Universal.» (Idem, p. 613). Logo depois, acrescenta-se que bastam as instruções dos Párocos para aqueles que vierem a dedicar-se aos trabalhos do campo e às actividades manuais, os chamados ofícios. Não se exige, pois, que todos sejam letrados.

[4] Ver: Collecção de Legislação Promulgada em 1835 1.º Caderno. Lisboa: 1835 na Impressão de Galhardo, e Irmãos.

(1) Cortesia da actual Junta de Freguesia de Maceira, e também das Secretárias, D. Filomena Saldanha e Patrícia Clérigo.

(2) Destes factos não encontrei qualquer registo escrito: vim ao seu conhecimento por comunicação pessoal das netas, Senhoras Dr.ª Maria João e Dr.ª Maria Fernanda de Sousa Martins, irmãs da Prof.ª M.ª Margarida, às quais agradeço a gentileza.

 

 

 

 

 

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